"Senta que lá vem História!", assim alertava um programa exibido numa emissora educativa.
Na humildade e com todo respeito, considera-se um cidadão do mundo e ser negro ignorante em formação e movimento constante: OUBÍ INAÊ KIBUKO, nome africano de Aparecido Tadeu dos Santos. Foi presenteado em meados de 1981 por uma Yalorixá. Assumiu. Quem leu "Negras Raízes" e "Autobiografia de Malcon X", ambos de Alex Haley; "Filhos de Olorum" - cantos e contos de candomblé, de Raul Longo; "Zenzele", de J. Nozipo Maraire; "A Negação do Brasil" – o negro na telenovela brasileira, de Joel Zito Araújo; "Know & Claim Your African Name" (Conheça e reivindique seu nome africano), por Becktemba Sanyika; "300 Names From The Holy Continent" (300 Nomes do Santo Continente), por G. K. OSEI, professor de História Africana; "Nomes Afros" - Quilombhoje-Literatura e "Propriedade Nominal", poema de sua autoria disponível na comunidade "Recanto das Letras"; e assistiu Ceddo, filme do cineasta e escritor senegalês Ousmane Sembene, somados aos conceitos e estudos sobre Identidade publicados pelos mestres: Beatriz Nascimento, Clóvis Moura, Lélia Gonzales, Milton Santos, Chimamanda Ngozi Adichie, Stuart Hall, Nêgo Bispo, Grace Passô, Djamila Ribeiro, apenas para citar, sabe o que significa.
E respeita, em nome da democracia e auto-estima edificantes, referências de origem e grupo étnico-racial (a exemplo de povos asiáticos, orientais, originários, comunidades quilombolas e de terreiro), pelo direito e prática de cidadania equitativa. Estamos todos sendo convidados e reeducados a repensar apagamentos históricos verticais por processos coloniais impositivos e a respeitar questões de cultura, identidade, gênero, inclusive ampliação aos conceitos e direitos de exercício do nome social. As leis 10.639/3 e 11.645/8, incluindo a Portaria MEC 1612-2011 são alguns dos instrumentos e recursos a serem utilizados e repensados com recorte étnico, onde houver necessidade e a quem possa interessar.
Desconhece berço dourado. É fruto de família humilde, batalhadora, perseverante, mesmo atuando em anônimos campos autônomos, domésticos e operários. Como a maioria das famílias periféricas e rurais que sobrevivem em localidades pouco atendidas por empresariado e governos. Nasceu na zona norte da capital de São Paulo, bairro Tucuruvi, em 26/10/1955. Por afogamento ficou órfão de pai a caminho dos 4 anos. É filho de Edgard "Mestre Puca" dos Santos (1934-1959), pintor residencial e sambeiro e Dalva Francisco de Camargo (1932-2009), costureira e diarista.
Em 2005, a caminho de meio século de existência, após ser reprovado três vezes na segunda fase da FUVEST, foi o terceiro membro de numerosa família materna e paterna, a ingressar num curso de nível superior. Devido a brigas, bullyngs, necessidades familiares, abandonou os estudos em 1968, a caminho dos 13 anos, no terceiro ano primário. Concluiu o ensino médio e fundamental através do Ensino Supletivo (atual EJA) em escolas públicas. A começar pelo MOBRAL, em 1972, na EE. Vila Nivi (zona norte), motivado pela canção "Você Também é Responsável", da dupla Dom e Ravel, executada em peça publicitária na campanha governamental de alfabetização. Graças ao Educafro, Movimento dos Sem Universidade (MSU) e ENEM é graduado em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda/FECAP, enfase em Gestão e Marketing, com bolsa PROUNI e Programa de Ações Afirmativas; formado posteriormente em Audiovisual pela Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo Andeé (ELCV), turma 4; Técnico em Logística/UNICID, com bolsa PRONATEC; Técnicas de Iluminação Cênica/SP Escola de Teatro.
Talvez por introspecção, timidez, falta de com quem conversar abertamente, sem censuras ou patrulhas, tomou gosto pela escrita por volta dos 14, 15 anos, a partir de versões de hits internacionais. E a fazer colagens sobre histórias em quadrinhos, ambos de forma autodidata e intuitiva. Mergulhou na escrita de tal maneira, a ponto dela tornar-se confidente, documentária, mensageira e até porta-voz. Por escrito, organiza o raciocínio e se expressa melhor do que falando. Fato que ultimamente o leva a se questionar: tímido ou intimidado? Se considera amante das artes, em especial da escrita em multimeios. E atua como um escrevedor garimpeiro de aspirações, impressões, interioridades, percepões, pensamentos e sentimentos externos e internos, quase psicossociais e comportamentais, mesclando biografia, crônica, ficção, poesia e roteiro audiovisual em primeira e terceira pessoa.
É fotógrafo, pesquisador visual, videoartdoc experimental, ator amador e figurante, compositor (letrista), integra o grupo de teatro Estrelas do Amanhecer - Universidade Aberta à Terceira Idade/Programa 60+ (Each USP Leste), idealizador e editor dos blogs CABEÇAS FALANTES, criado em 12/fevereiro/2002 e QUILOMBOCINE, criado em 2009. Os filmes: Alma no Olho, 1974; Raízes, 1977; Sans Soleil, 1983; Os Donos da Rua, 1991; Malcom X, 1992; Baraka, 1992; Domésticas, 2001; Mãos Talentosas: A História de Ben Carson, 2009; Histórias Cruzadas, 2011; Estrelas Além do Tempo, 2016; O Menino Que Descobriu o Vento, 2019; Identidade, 2021, servem de referência para reflexões e subsídios. Quem circula em espaços populares ou utiliza transporte público, tem olhos e ouvidos parabólicos, encontra neles matéria-prima diversa e repleta de realidades possíveis nos percursos e trajetos.
Os primeiros escritos foram publicados nos meados de 1970, a título de colaboração, em veículos institucionais extintos: Ensimesmando (Banco Real) e Jornal da UFAC (Diário do Comércio), dos quais foi funcionário. Meios que abriram caminhos e o levaram por indicação da jornalista Neusa Maria Pereira à antologia Cadernos Negros 3, poesia, em 1980 e volumes posteriores. Tem ela, Hamilton Cardoso (jornalista) e Vanderlei José Maria (filósofo) como seus gurus e mentores do Movimento Negro. De 1982 a 1995 foi membro do Quilombhoje - Literatura, grupo paulistano de escritores negros responsável pela organização e publicação da série criada em 1978, publicada anualmente, alternando-se em poemas e contos de autoras e autores negros do Brasil e do Exterior.
A estreia em teatro de grupo ligado à Igreja Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, se deu em meados de 1976, através da Comunidade de Jovens Itaquerenses (COJI), na peça O Final, roteiro e produção coletiva, interpretando um operário em conflito com o patrão devido as suas convicções religiosas. Nos anos 1980, de forma autodidata e intuitiva decorrentes de forças circunstanciais, experimentando-se como ator, diretor e dramaturgo, escreveu, montou, dirigiu e apresentou dois monólogos em formato recital póetico-teatral: COMO SE FOSSE PECADO, baseado no seu primeiro livro. E posteriormente AXÉ BRASAFRO! Baseado em poemas autorais, canções, poemas e textos de outros autores. Este segundo esteve em cartaz até 1985.
Nos anos 1990 tomou gosto pela fotografia. A inspiração veio dos mestres: Januário Garcia, Luís Paulo Lima e Mário Espinoza, em companhia dos filmes Quilombo, 1984, de Cacá Diegues; Ori, 1989, da cineasta e socióloga Raquel Gerber, escrito e narrado pela historiadora e professora Beatriz Nascimento. Nesta mesma década, buscando novos horizontes para a escrita, além da literatura, participou de um curso de cinema curta-metragem visando aprendizado em práticas e técnicas de roteiro. Os primeiros passos em ambos se deram na Oficina Cultural Alfredo Volpi, em Itaquera. Nela foi iniciado nas citadas áreas pela fotógrafa Sheila Oliveira e pelo cenógrafo e cineasta Renato Ribeiro.
Além de obra individual, toda em poesia, tem poemas, contos, artigos, ensaios, textos preferidos publicados nas séries Cadernos Negros, Negrafias, incluindo a comunidade Recanto das Letras. Desde 1967 reside na zona leste, e sentou praça a partir de 1988 na COHAB Cidade Tiradentes e colabora com entidades regionais atuantes no cenário sócio-cultural-educacional. Amante de gêneros diversos que propiciem diálogos intertextuais e multidisciplinares, gosta de escrever com a caneta e com a luz, bem como produzir idéias e projetos de cunho cultural e étnico-referencial.
Em busca de aperfeiçoamento e informações, visando estreitar relações conceituais e experimentais entre escrita e fotografia, cursou Iluminação Cênica na SP Escola de Teatro, no biênio 2020 - 2022. A inspiração veio do documentário sobre o fotógrafo armênio-canadense Yousuf Karsh: Uma História (Karsh Is History), dirigido por Joseph Hillel, em 2009. Com os adventos multimídia, desde 2024 cursa Dramaturgia na mesma instituição visando ampliar os horizontes da escrita e das artes visuais.
Atualmente dedica-se a pesquisar estruturas narrativas diversas, seus fundamentos teóricos e técnicos, visando suprir lacunas e ampliar horizontes para a escrita e produções; a reescrever um ensaio lítero-biográfico publicado na antologia Reflexões - sobre a literatura afro-brasileira, Quilombhoje/CPDNSP, 1985; e prepara reunião de textos publicados em três volumes: ensaios, contos e poemas revisitados.
Nos tempos de faculdade aprendeu com uma professora: "Aproveite todas as Oportunidades." Crente e defensor de Possibilidades, por estar indo aonde nunca foi, almeja mestrado em Antropologia Cultural e Visual como um funil catalisador dessas experiencias e vivencias. Bastões tem sido passados para acolher, nortear, socorrer, com a prerrogativa de serem adiante repassados com acréscimos. Assim como um dia careceu, em algum lugar existem pessoas em igual situação. "Lugares em construção sugerem pessoas em construção." Este é o seu lema e filosofia de vida. Somado a: "Somos malungos interdependentes. Vidas e Vozes Negras Importam..." Segundo um provérbio africano: Existe três tipos de Riqueza: Bens, Filhos, Longevidade. A fortuna de quem vive muito é a de contar aos outros tudo que viveu."
BIBLIOGRAFIA
Individual:
1.Como se fosse pecado. São Paulo: Edição do Autor, 1980, poemas;
2.Mergulho. São Paulo: Edição do Autor, 1981, poemas e pensamentos humanistas;
3.Sobrevivência. São Paulo: Edição do Autor, 1981, poemas;
4.Poemas para o meu amor. São Paulo: Edição do Autor, 1984. Nota: Este livro era para ser: Edição Quilombhoje. Ele inaugurou o Projeto Livro do Autor. Um consórcio interno que visava estimular a produção individual dos membros, fomentar e fortalecer o espírito colaborativo, elemento ativo e presente nos teatros de grupo. Devido a preconceitos ideológicos e temáticos, foi publicado como Edição do Autor. E com ressalva em negrito itálico: "A seleção dos textos aqui publicados é de inteira responsabilidade do autor." O poema Negação Interior, escrito e publicado posteriormente no livro que se seguiu, expõe a questão;
5.Canto à negra mulher amada. São Paulo: Ed. do Autor, 1986, poemas.
Antologias:
Cadernos Negros 3 a 5 (org. Cuti); 6 a 14 e 16 (org. Quilombhoje). São Paulo: Ed. dos Autores, 1980 a 1991 e 1993 (poemas e contos) e Cadernos Negros 17 e 19 (organização Quilombhoje). São Paulo: Quilombhoje: Editora Anita, 1994 e 1996 (poemas); Cadernos Negros volume 25/29 – poemas afro-brasileiros (orgs. Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa). São Paulo: Quilombhoje, 2002/2006; Cadernos Negros volume 26/28 – contos afro-brasileiros (orgs. Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa). São Paulo: Quilombhoje, 2003/2005. Reflexões sobre a literatura afro-brasileira. São Paulo: Quilombhoje, 1982/Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, 1985 (ensaios); Semeando, volume 1, antologia cooperativa de novos escritores brasileiros. São Paulo: Ed. dos Autores, 1983. Criação crioula nu elefante branco (org. Cuti, Miriam Alves e Arnaldo Xavier). São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1987 (ensaios); Pau de sebo – coletânea de poesia negra (org. Julia Duboc). Brodowski: Projeto Memória da Cidade, 1988; Poesia negra brasileira: antologia (org. Zilá Bernd). Porto Alegre: AGE: IEL: IGEL, 1982; Projeto Arte na COHAB – literatura, SMC/COHAB-SP/Prefeitura Municipal de São Paulo/SP, 1988. Pretumel de Chama e Gozo, antologia de poesia erótica - organização de Cuti (Luis Silva) e Akins Kintê 2015.
COLABORAÇÕES:
Cadernos Cândido Mendes nº 8-9, Centro de estudos afro-asiáticos, Faculdade Cândido Mendes. Rio de Janeiro: 1983; Revista Aldeia – cultura popular alternativa, anos 80/90 (organização Célio Pires); Hora X – jornal Consciência Negra, Sociedade Comunitária Falanegão; Tribuna Tiradentes Leste – Literatura; Literafro – Portal da literatura afro-brasileira; Mídia Independente; Consciência Negra do Brasil – os principais livros. Belo Horizonte/MG: 2002, orgs. Cuti e Maria das Dores Fernandes, Mazza Edições Ltda. Revista Raça Brasil nº192 - 2014; Revista Cinza nº06 - Coletivo Cinza - 2016.
NA INTERNET:
Cabeças Falantes - Arte, Cultura, Informação, Publicidade Comunitária;
Quilombocine: Presença e representação negra e afrodescendente nas artes cênicas e visuais do Brasil, África e Diásporas.
Arquivo Cabeças Falantes - edições publicadas;
Quilombhoje - Ouça um poema e um ponto - Cinco Elementos;
Literafro – Portal da literatura afro-brasileira;
Recanto das Letras: Comunidade com milhares de escritores publicando poesias, mensagens, crônicas, contos, frases, pensamentos, poetrix, haikais e outros gêneros literários;
Fotografia: Momentos memoráveis merecem atenção especial. Oubi Inaê Kibuko - fotografia e literatura;
Pobre – edição virtual bimensal
Breve portifólio audiovisual de Oubí Inaê Kibuko.
Três Homens Frios – Elétrica, Maquinaria, Still.
Conjunto Vazio - mediações do inconsciente – Ator, Still.
De quem é? – Direção, Co-roteiro, Figuração.
Homem de Touca – Direção, Roteiro, Figuração.
Horas – Direção de fotografia, Co-roteiro, Still.
O Terrorista – Co-Direção de fotografia, Still, Figuração.
Orikí – Co-Direção.
Tutti Maria (Cosco Coifa) - Ator.
Desvios - Oficina Santo André Documenta - Documentário musical - Produção Coletiva, Still.
Jardim Beleléu - Figuração, Still.
Sarau Quilombhoje na Bienal - Fotodocumentário
Festa da Pomba Gira Princesinha das Sete Encruzilhadas - Pai Gegê D'Osumarê - Fotodocumentário
Canal Oubi Inaê Kibuko = fotógrafo/videoartdoc no Youtube
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