NEGAÇÃO INTERIOR
pedras prenhes de ressentimentos estilhaçando
momentos desvendados em poemas para o meu amor
palavras de afeto feito, desfeito...
sendo pichadas por fendas e fomes sociais
na pauta da militância é proibido cantar sentimentos
devido às cicatrizes do passado e aos curtos-circuitos
que vivem incendiando as relações raciais
quando o sol adormece: braços, bocas, peles, pêlos
se emaranham avidamente, deixando marcas nos lençóis...
e as confissões se desamordaçam na plenitude
profunda e ardente do afeto (in)satisfeito
e a gente, temendo canetas vermelhas
empunha bandeiras, dispara palavras armadas
nas rodas, nas praças e esconde pedaços de nossas vidas
até quando as canções do coração
permanecerão encarceradas nas gavetas da omissão?...
Publicado originalmente em Cadernos Negros 9, poemas, 1986 e posteriormente em Canto à negra mulher amada, edição do autor, 1986.