CANTIGA SOLERTE DO POETA NUMA NOITE DE QUARTA-FEIRA

NA CRIAÇÃO DE PALMAS(to.)

CANTIGA SOLERTE DO POETA

NUMA NOITE DE QUARTA-FEIRA

(in-poemas expeimentais)

GOSTARIA DE VER O MUNDO DO OUTRO LADO DA RUA!

A SOLIDÃO COMPELE–ME A BUSCAR COMPANHIA

A NOITE IMENSA MOSTRA O OUTRO LADO DA RUA ONDE

A PEROBREZA VOMITA FEIURA PELA BOCA

ENORME E SEM DENTES.

Os meninos engraxam sapatos comprados a prestação

e morrem como as crianças do outro lado da rua:

magras, feias, leves e esquálidas, sonhando com a cerveja

que jamais beberão, nem ouvirão cantigas de ninar.

DO OUTRO LADO DA RUA AS FALENAS SABEM O QUE VENDEM.

DO LADO DE CÁ CUSTAM UM COQUETEL E UMA NOITE DE LUZES,

FÊMEAS POBRES VESTIDAS DE LUXO PELAS SACOLEIRAS.

DO LADO DE LÁ NÃO EXISTEM AGIOTAS

OU CORONÉIS DE MUITAS VACAS.

SÓ QUE VOMITAM DO LADO DE CÁ, NOS CANTOS,

NAS RUAS, NAS PORTAS DOS QUARTOS

E ALOJAMENTOS DAS DONZELAS BARATAS E INFELIZES.

AÍ, O POETA COMEU FARINHA DE PUBA

E PALITOU FRANGO ASSADO NA PRAÇA DOS TRÊS PODERES.

A ASSESSORA LAVOU O MIJO E REMENDOU A CALCINHA,

COM LINHA VERMELHA, PARA ESCONDER A FEIURA DO MUNDO.

SSPóvoa
Enviado por SSPóvoa em 17/01/2009
Reeditado em 01/12/2012
Código do texto: T1389461
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