CANTIGA SOLERTE DO POETA NUMA NOITE DE QUARTA-FEIRA
NA CRIAÇÃO DE PALMAS(to.)
CANTIGA SOLERTE DO POETA
NUMA NOITE DE QUARTA-FEIRA
(in-poemas expeimentais)
GOSTARIA DE VER O MUNDO DO OUTRO LADO DA RUA!
A SOLIDÃO COMPELE–ME A BUSCAR COMPANHIA
A NOITE IMENSA MOSTRA O OUTRO LADO DA RUA ONDE
A PEROBREZA VOMITA FEIURA PELA BOCA
ENORME E SEM DENTES.
Os meninos engraxam sapatos comprados a prestação
e morrem como as crianças do outro lado da rua:
magras, feias, leves e esquálidas, sonhando com a cerveja
que jamais beberão, nem ouvirão cantigas de ninar.
DO OUTRO LADO DA RUA AS FALENAS SABEM O QUE VENDEM.
DO LADO DE CÁ CUSTAM UM COQUETEL E UMA NOITE DE LUZES,
FÊMEAS POBRES VESTIDAS DE LUXO PELAS SACOLEIRAS.
DO LADO DE LÁ NÃO EXISTEM AGIOTAS
OU CORONÉIS DE MUITAS VACAS.
SÓ QUE VOMITAM DO LADO DE CÁ, NOS CANTOS,
NAS RUAS, NAS PORTAS DOS QUARTOS
E ALOJAMENTOS DAS DONZELAS BARATAS E INFELIZES.
AÍ, O POETA COMEU FARINHA DE PUBA
E PALITOU FRANGO ASSADO NA PRAÇA DOS TRÊS PODERES.
A ASSESSORA LAVOU O MIJO E REMENDOU A CALCINHA,
COM LINHA VERMELHA, PARA ESCONDER A FEIURA DO MUNDO.