Réu preso, dor e sentimento da família.
Réu preso, dor e sentimento da família.
Tenho que os advogados criminalistas, mais do que qualquer outro advogado, por certo conhecem um lado desconhecido de todos: o lado da família do réu. Sua história de vida e de morte.
Réus presos e suas famílias normalmente vivem em áreas de periferia, e tem uma família com histórico, com um passado na vida marginal: pai, irmão tio, alguém que já esteve preso ou agiu em desacordo com a lei. E deu o exemplo errado.
É o que nós juízes também, eis que sensíveis que somos, temos ou tivemos oportunidade de perceber e sentir esse flagelo destas famílias.
Mas o fato de cometerem os crimes não significa que não exista amor entre os familiares, que a morte destes, em troca de tiros com a polícia ou em disputas por pontos de venda de droga, não traga dor e sofrimento.
Por óbvio que sim.
É comum, mais do que se imagina, o sujeito preso e condenado a alguns anos de cadeia, seja por tráfico, latrocínio, após cumprir parte da pena ou toda ela, ou então ao ser beneficiado pela progressão de regime de pena mais brando, e.g. regime semi-aberto e, pouco tempo após sua soltura, vir a ser morto, ou então sofrer perseguição, etc.
Qual não é a dor da mãe, da esposa e do filho, estes que aguardaram ansiosamente pela soltura e ganhasse a liberdade.
Erram aqueles que imaginam que a família sempre compactua, que sempre é conivente com a conduta delituosa do ente querido. Ledo engano. Muitas vezes a família tenta afastá-lo do caminho errado, infelizmente em vão. Mas uma família normal não abandona o filho, o irmão, o sobrinho, quando este decide pelo caminho errado. Não apóia, mas não abandona. Procura tê-lo perto.
É fato que existem os presos que decidiram pela vida no crime. Para estes, o fim é o mesmo: ou a prisão ou a morte. Sem exceções. Mas existem sim aqueles que se arrependem, aqueles que aprendem com os dia de perda de liberdade e distancia da família.
O cidadão acaba sendo morto por vingança, fato comum entre aqueles que resolveram viver à margem da lei. Essa foi a escolha dele.
Faço a minha obrigação em nome do Estado, mas isso não me impede de sentir respeito a dor da família. Isto não o torna meu inimigo pessoal. Não. Isto não impede que eu tenha e sinta pesar à família.
Extrema, 11/01/22.
Milton Biagioni Furquim