Fogo gelado
Eis o fogo gelado do século dezenove,
Nele, as bruxas se deixam queimar diversas vezes por diversão.
Usando varinha ou poção.
Vi, depois, uns olhos frios:
Uma cadela ser tragada pela morte.
De estimação era a coitada.
Começou pela cabeça,
Incapaz de a levantar,
os ouvidos rumavam ao chão.
Feitas em palitos de dente, as pernas.
Lenta era a quebra,
Um arrastão de palhas secas.
E a mísera cadela querendo o impossível
Dos lugares mais altos se atirando,
A provar-se sobre si.
Mais ainda encrencada
A doente de viver!
Comida, já nada.
Vômito e baba,
A língua presa ao céu da boca.
No odor, a hora soara.
Das profundezas, carburador,
Arranhada e rouca respiração.
Via o alimento, dele escapava.
Nenhum cuidado útil
Quando a noite se acercava,
Senão a presença
Das trevas cumprindo o papel.
De apagar a vida com a morte,
Que brincou e brincou até cansar.
Seus rompantes deram vista no jornal:
As chagas expostas da criança
Torturada pela mãe.
Foi ao lixo pela fome,
E um motivo á mulher dara,
Para mais lhe espancar.
Troça faz com o filho moço:
Ele toma seus direitos
Mata em si o próprio pai,
Gasta tudo do seu jeito,
E depois, faminto,
vê apartarem-se os amigos.
Vai cuidar então de porcos,
Trabalhar sem um vintém,
Salivando por lavagem.
Já um rico abastado,
Lembro só dos vinhos caros,
No presente, todo sede.
As bruxas do século dezenove,
Lançavam-se às chamas
Por pura diversão.
Enquanto riam de coisa séria
Os pés e as patas com a música fracasso.