É escrever

Sofro na distância

dos espaços entre as letras

e o longo esperar da próxima palavra.

Sofro com a ânsia

entre os espasmos para ler

e o microssegundo pra soletrar.

O quanto o outro

vai sofrer pra entender,

causa-me náuseas de tanta dor.

Saber que não encontro

o tipo certo pra escrever

sem tornar para o outro, terror.

Sofro, como sofre quando sai,

os filhos maiores pra rua,

de casa, à porta, a dor dos pais.

É-me a morte a arrebatar

como o tempo de nascer

e crescer cada letra digitar.

Mas o tormento em alegria

quando ao papel morto,

retorno e leio em qualquer dia.