ALITERAÇÃO, ASSONÂNCIA E RIMA
 
Em um poema conjeturado como peça musical, a métrica seria como o baixo e a percussão, que lhe oferecem harmonia rítmica. Mas, para além disso, um poema necessita de vibração. Nesse sentido, a aliteração, a assonância e a rima o complementam. São figuras de linguagem, de som ou harmonia.
 
ALITERAÇÃO
 
O vocábulo “aliteração” origina-se na língua latina “alliteratio” e significa “letra". Mas, é bom salientar, que a aliteração consiste na repetição do fonema e não simplesmente da letra, isso porque a correspondência entre esses dois elementos nem sempre ocorre na língua portuguesa. Por exemplo, nos vocábulos: táxi, exame e enxaqueca, a letra é a mesma, mas, os fonemas são diferentes. Por isso, é importante advertir que a aliteração busca sempre a reprodução dos sons.
 
Trata-se de um jogo das sonoridades, que se perfaz em uma concomitância de arranjos sonoros, através da repetição de sons em palavras. Na aliteração, isso se faz através da repetição de fonemas consonânticos (sons de consoantes), iguais ou parecidos, que sugerem ou descrevem sonoramente um pensamento ou um sentimento. A depender desses sons repetidos, os resultados tonais serão diversificados.
 
Para o reconhecimento da aliteração, pergunta-se:
 
- O que se repete é uma consoante?
- A repetição ocorre na sílaba tônica (marca o ritmo de uma sequência de termos) ou produz um efeito sonoro que potencializa o sentido do que se pretende dizer?
- A repetição ocorre, pelo menos duas vezes, no verso, na estrofe ou na frase?
- A consoante ou sílaba que se repete, de modo geral, ocorre no início ou no meio do vocábulo?

A repetição do som “p” é forte e incisiva:
 
“Sou pélago profundo e a maldição que empluma.”
Sílvia Mota. Notívaga ferida.
 
A repetição em “b” e “br”, no verso abaixo, é musical e esvoaçante:
 
"Auriverde pendão de minha terra, que a brisa do Brasil beija e balança." Castro Alves. O navio negreiro.
 
À repetição do som "s", tem-se um poema que soa estranho, misterioso e sibilante:
 
“- suave, sôfrega, sibilina -“
Sílvia Mota. Teu corpo em mim serpente.
 
Salivo no teu sentir e salivas solícito no meu”
Sílvia Mota. Teu corpo em mim serpente.
 
Se ocorrer a repetição de um som mais abrupto como um som "g" ou "k", o resultado soará mais divertido:
 
Aliteração em “g”:
"Toda gente homenageia Januária na janela."
Chico Buarque. Januária.
 
Aliteração em “k”:
“Não perdoar arroz, nem cucuz quente”
Gregório de Matos. Confusão do festejo do entrudo.
 
O recurso serve para travar a língua:
 
Aliteração em “r”:
"O rato roeu a roda da carruagem do rei de Roma."
 
Aliteração em “t”:
"Três tigres trituram três pratos de trigo."
 
É comum em ditos populares, versos folclóricos ou brincadeiras infantis, como neste caso de aliteração em “f”:
 
Aliteração em "f":
“Quem com ferro fere, com ferro será ferido.”
 
A aliteração é um enérgico recurso, que adiciona um interesse especial ao poema. Entretanto, o uso excessivo será ruidoso, a não ser que se pretenda imprimir um caráter cômico aos versos, e, nesse caso, não se estabelecem limites. Relevante não apenas escrever a aliteração – uma leitura em voz alta é eficiente para estabelecer limites para o uso desse peculiar recurso estilístico.
 
ASSONÂNCIA
 
O vocábulo “assonância” origina-se do latim “assonans”, do verbo “assonare”, que significa “produzir som” por meio do “ecoar”, “fazer eco” ou “ressoar”.
 
A assonância constitui-se em uma repetição de fonemas vocálicos (sons de vogais), que pode ocorrer nas sílabas tônicas das palavras ou se destacar com determinada regularidade em uma mesma frase. Não diz espeito a vogais repetidas, porque uma vogal usada em uma palavra, pode apresentar um som diferente quando usada em palavra diferente.
 
A assonância é mais sutil do que a aliteração ou a rima; porque geralmente aparece no meio da palavra e não no começo ou fim da mesma. Trata-se de som um pouco mais camuflado.
 
Assonância em “a”:
“[...] cavalgo na quimera, a crina ambígua ao vento.”
Sílvia Mota. Notívaga ferida.
 
Assonância em “i”:
“[...] cavalgo na quimera, a crina ambígua ao vento.”
Sílvia Mota. Notívaga ferida.
 
Assonância em "e":
É todo teu esse vale.
De quem mais podia ser?
Para que nos deliciemos
O pomar será de mel.
Gabriela Mistral. Canção amarga. Tradução de Henriqueta Lisboa.
 
RIMA
 
Rima é a repetição de sons no início, no meio ou ao final dos versos. É um jeito muito popular de adicionar colorido às palavras. Na verdade, é tão popular, que muitas pessoas consideram que todo poema deve rimar.
 
Antônio Feliciano Castilho realiza uma atraente colocação a respeito da predileção entre o verso rimado e o verso livre: “Os bons versos soltos são muito bons; os versos bem rimados são muito melhores.”
 
No meu pensar, não importa que se façam versos com rima ou sem rima, clássicos ou livres; mas, sim, que se façam versos, versos e mais versos. A função do poeta é MARAVILHAR o leitor, o que somente ocorre através de exercício diário. Sem encantamento, não existe o poeta. É de sabença, que os gênios não o serão o tempo todo, mas, os bons poetas necessitam sê-lo, na maioria das vezes em que se expressam.
 
Algumas rimas:
anil, funil, pernil, juvenil...
dor, ardor, amador, comendador...
mero, zero, quero, venero...
 
Na maioria das vezes, as palavras que rimam são usadas nas extremidades dos versos, de forma alternada:
 
“O que há depois... depois do teu cingir candente?
- A brisa que me afaga em tempo enamorado,
a fuga do jamais e o sonho transcendente,
a seiva do meu beijo em busca do pecado...”
Sílvia Mota. Namorada.
 
As rimas podem ser internas ou coroadas, quando ocorrerem no interior do verso:
 
“A bela bola do Raul
Bola amarela
Cecília Meireles. Jogo de bola.
 
“Na messe, que enlourece, estremece a quermesse”
Eugênio de Castro. Um sonho.
 
Observação.
Esse tipo de rima é também uma figura de harmonia denominada eco.
 
Serão encadeadas, quando as palavras que rimam se situam no fim de um verso e no início ou meio do outro:
 
“Salve Bandeira do Brasil querida
Toda tecida de esperança e luz
Pálio sagrado sobre o qual palpita
A alma bendita do país da Cruz
Francisco de Aquino Correia. Salve bandeira.

As rimas serão opostas, quando entre os versos rimados existem dois outros que podem conter rima ou não.
 
“Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada...
Sobre as névoas te libras vaporoso...”
Castro Alves. Último fantasma.
 
As rimas serão paralelas, quando um verso rimar com o seguinte.
 
“Filho meu, tesouro mago
de todo esse afeto vago...
Filho meu, torre mais alta
de onde o meu amor se exalta.”
Cruz e Sousa. Faróis.

Teremos rimas aliterantes, quando ocorrerem rimas cujos sons consonantais iguais se repetem:
 
“Pedro pedreiro penseiro esperando o trem.
Que já vem, que já vem, que já vem...”
Chico Buarque. Pedro pedreiro.
 
As rimas serão continuadas, quando apresentarem a repetição do mesmo som na estrofe ou até mesmo em todo poema:
 
“Ó tristeza sem fim deste dia de agosto!
É como um dia que nasces se de um sol-posto:
um dia já vivido, um dia já transposto
há muito, muito tempo…; um dia decomposto
― cadáver de outro dia ― a apodrecer exposto
ao sol profanador de outro dia disposto
a ser útil e belo…; um dia recomposto,
feito do que restou de dias de desgosto.”
Guilherme de Almeida. Rimas para um dia de agosto.

Reeditado em: Piquete, 9 de setembro de 2020
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 07/11/2018
Reeditado em 16/09/2020
Código do texto: T6496965
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