QUEM É O POETA?

Os poetas são assim mesmo, detestam formalismos, etiquetas e cálculos, alguém que despreza oráculos e conselhos, para seguir, só e indefeso, enfrentando moinhos de vento, em defesa da imaginária e bela Dulcinéa, apesar da deserção de Rocinante e Sancho Pança. Os poetas choram em versos e fingem que não são tímidos ao se despirem em público, em poemas de pouca qualidade e gramaticalmente sofríveis, que fazem para seduzir donzelas e apregoar um talento que não possuem. Os poetas dizem não ter apegos aos valores amoedados, mas, no fundo lamentam os desperdícios que nunca puderam cometer, as viagens de volta ao mundo que sempre lhe foram vedadas, as muitas garrafas de champanhe francês que nunca lhes matou a sede. Os poetas, enfim, são fingidores desavergonhados, que fingem sentir a dor que deveras sentem, mas, que mesmo fingida, dói feito obsesso no dente. O poeta é tudo isso e sempre um pouco mais. O poeta talvez seja uma mente em enguiço, fruto de um chouriço com cerveja preta, comido na feira, depois do meio dia, quando não mais recomendavam as boas regras da fina gastronomia. O poeta é alguém dramático que, para não se atirar da janela do nono andar, se esconde dentro da poesia.