Elementos Básicos de Poesia: Anotações
A Poesia como gênero literário
Os gêneros literários são definidos conforme uma sistematização da Literatura que permite a classificação das obras literárias de acordo com critérios semânticos, sintáticos, fônicos, discursivos, formais, contextuais, situacionais e afins.
Desse modo, os gêneros literários são modelos de estruturação formal e temática da obra literária que oferecem ao autor como um esquema prévio à criação de sua obra.
A retórica clássica definiu a classificação dos gêneros literários em três grupos importantes: lírico, épico e dramático.
A palavra ‘lírico’ deriva de ‘lira’, instrumento musical usado na Grécia Clássica, já há alguns séculos antes de Cristo. Nessa época, dava-se o nome de lírica à canção entoada ao som da lira. Essa união original entre os versos e a música fez com que o ritmo fosse a característica mais marcante da obra lírica. Na Idade Média, a lira foi substituída por outros instrumentos como a viola e o alaúde. Por volta do século XV ocorreu a separação entre os versos e o acompanhamento musical, fazendo com que o texto lírico deixasse de ser cantado para ser declamado ou lido. Assim, a musicalidade dos versos passou a ser elaborada no interior da própria linguagem poética, com os poetas desde então ir explorando cada vez mais o ritmo e a sonoridade das palavras.
A poesia, ou gênero lírico, ou lírica é uma das Sete Artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos. Conforme Manuel Pires de Almeida (in Manuscrito da Torre do Tombo, Lisboa "Discurso sobre o poema heróico", 1633) "Poesia, segundo o modo de falar comum, quer dizer duas coisas. A arte, que a ensina, e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra poema, o poeta o artífice."
Versificação
Do latim ‘versificatio’, versificação é a Arte, o sistema ou método de fazer versos. Versificação também descreve o molde dos versos, a maneira porque os versos se acham contornados numa determinada composição métrica.
Verso é o nome de cada linha de um poema ou poesia.
O conjunto de versos se chama ‘estrofe’ ou ‘estância’.
Uma estrofe de dois versos se chama ‘dístico’, a de três versos ‘terceto’, a estrofe de quatro versos é ‘quadra’ ou ‘quarteto’, a de cinco versos é ‘quintilha’, a estrofe de seis versos ‘sextilha’, a de sete versos é ‘setilha’, a de oito versos é ‘oitava’ e a estrofe de dez versos se chama ‘décima’.
Quando o verso se repete no fim das estrofes temos o ‘estribilho’.
Os elementos comuns do verso são ‘metro’, ‘ritmo’ e ‘rima’.
Metro
Denomina-se ‘metro’ de um verso a extensão da linha poética, conformada pelo número de ‘sílabas poéticas’ ou ‘sílabas métricas’ do verso.
Na Poética de nossa língua portuguesa são admitidos versos de uma a doze sílabas, sendo considerados os versos com mais de doze sílabas como ‘bárbaros’.
As sílabas de um verso recebem o nome de ‘sílabas métricas’ ou ‘sílabas poéticas’. As ‘sílabas métricas’, diferentemente das sílabas gramaticais, são aquelas que se contam ‘auditivamente’, obedecendo a certos princípios:
a) quando houver vogal no fim de uma palavra e vogal no início da palavra seguinte, formando ‘ditongo’ (como exemplos: grande amor = gran-dia-mor; campo alcatifado = cam-pual-ca-ti-fa-do) ou ‘crase’ (minha alma = mi-nhal-ma; santo orvalho = san-tor-va-lho), conta-se apenas uma sílaba;
b) a contagem de sílabas métricas no verso se faz somente até a sílaba tônica da última palavra;
c) os ditongos, geralmente, formam uma só sílaba métrica, assim temos: pá-tria, quei-xu-me, a-cor-dou, su-biu, lá-bios;
d) geralmente os hiatos mantêm as vogais separadas como em: ru-í-do; bo-a; re-cu-a; ven-ta-ni-a.
Número de Sílabas Poéticas num Verso: Classificação
Comumente, quanto ao número de sílabas métricas os versos podem ser ‘pentassílabos’ (ou ‘redondilhas menores’), com 5 sílabas poéticas; ‘hexassílabos’, com 6 sílabas poéticas; ‘heptassílabos’ (ou ‘redondilhas maiores’), com 7 sílabas poéticas; ‘octassílabos’, com 8 sílabas métricas; ‘encassílabos’, com 9 sílabas poéticas; ‘heróicos’ e ‘sáficos’, com 10 sílabas métricas; ‘hendecassílabos’, com 11 sílabas poéticas e ‘dodecassílabos’ (ou ‘alexandrinos’), com 12 sílabas métricas.
Processos Fonéticos de Ajuste
Os poetas podem recorrer a vários processos fonéticos para que o metro seja ajustado. Podemos citar como principais:
a) a ‘crase’ que é a fusão de duas vogais numa só como: pode exaltar = po-de-xal-tar; santo orvalho = san-tor-va-lho;
b) a ‘elisão’ (ou sinalefa) que é a queda da vogal átona final de uma palavra quando a seguinte começa por vogal, como: canta um = can-tum; minha infância = mi-nhin-fân-cia;
c) a ‘ditongação’ que é a fusão de uma vogal átona final com a seguinte formando ditongo, como: grande amor (‘i’) = gran-dia-mor; campo alcatifado (‘u’) = cam-pual-ca-ti-fa-do; meigo amigo (‘u’) = mei-gua-mi-go;
d) a ‘sinérese’ que é a transformação de um hiato em ditongo, como: crueldade = cruel-da-de; violeta = vio-le-ta;
e) a ‘diérese’ que é a transformação de um ditongo em hiato, como: saudade = sa-u-da-de; vaidade = va-i-da-de;
f) a ‘ectlipse’ que é a queda de um fonema nasal final para que haja ‘crase’ ou ‘ditongação’, assim: com o = co; com os = cos; com a = coa; com as = coas;
g) a ‘aférese’ que é a queda de sílabas ou fonemas iniciais, como: ainda = inda; estamos = ‘stamos;
h) ‘síncope’ que é a queda de um fonema no meio da palavra, como: esperança = esp’rança; deveria = dev’ria; pérola = per’la;
i) ‘apócope’ que é a queda do fonema no fim da palavra, como: mármore = mármor; cárcere = cárcer; vale = val;
j) a ‘prótese’ que é o acréscimo de fonema no início da palavra, como: levantar = alevantar; mostra = amostra;
k) a ‘paragoge’ (ou ‘epítese’) que é o acréscimo de fonema no final da palavra, como: mártir = mártire; cantar = cantare;
l) a ‘diástole’ que é a deslocação do acento para a sílaba seguinte, como Cleópatra = Cleopatra; álacre = alacre;
m)a ‘sístole’ (inverso de diástole) que é a deslocação do acento para a sílaba anterior, como: Dario = Dário; calmaria = calmária;
n) a ‘metátese’ que é a transposição de um fonema na própria palavra, como: rosário = rosairo;
Ritmo
O ‘ritmo’ é a musicalidade do verso. Para que um verso tenha ritmo usam-se sílabas fortes e sílabas fracas, com intervalos regulares. Uma sequência rigorosa dessas sílabas (fortes e fracas) é que dá ao verso musicalidade, harmonia e beleza.
Rima
A rima é a identidade ou semelhança de sons a partir da vogal tônica entre duas ou mais palavras.
Comumente classificam-se as rimas em:
a) ‘soante’ (ou ‘consoante’) – quando a correspondência entre vogais e consoantes é perfeita, como: fino/menino; lavada/calçada; atroz/nós; feio/seio; fez/mês;
b) ‘toante’ (ou ‘assoante’) – quando a correspondência é apenas de vogais tônicas, como: satírico/espírito; tarde/esperar-te;
c) ‘perfeita’ – quando as vogais tônicas são idênticas no timbre, como: céu/véu; fosse/doce; agora/mora;
d) ‘imperfeita’ – quando há diferença no timbre ou quando uma das palavras possui um fonema a mais que a outra, como: céu/meu; fosse/posse; estrela/vela; mudo/surdo; virgem/vertigem; nus/azuis;
e) ‘pobre’ – quando a rima é valorada com palavras da mesma classe, como: amor/flor (substantivos); amar/calar (verbos); doloroso/amoroso (adjetivos);
f) ‘rica’ – quando a rima é valorada com palavras de classes diferentes, como: arde/covarde (verbo e adjetivo); penas/apenas (substantivo e palavra denotativa); fino/menino (adjetivo e substantivo);
g) ‘preciosa’ – quando a rima é valorada sendo formada por três palavras, como: vê-la/estrela; vê-lo/novelo; sê-lo/pêlo; há-de/saudade;
h) ‘rara’ – quando a rima se forma entre palavras de terminação incomum, como: cisne/tisne; estirpe/extirpe;
Pé
O pé (gr. ποῦς, lat. pes) é a unidade básica rítmica do poema. Como se sabe, no advento da poesia o poeta recitava seus poemas acompanhado da lira ou marcando o ritmo com o pé, de onde veio a denominação ‘pé’, sendo considerado o ‘alicerce fundamental’ da poesia.
Um pé pode ser composto de diversas sílabas e uma única palavra pode conter muitos pés. Também um pé pode, muitas vezes, servir como ponte em várias palavras, contendo, por exemplo, a última sílaba de uma palavra mais a primeira da próxima.
Em cada 'pé', uma das sílabas determina a 'descida' do pé (ou golpe) que marca o ritmo (o tempo 'forte') e outra sílaba condiciona a 'elevação' do pé (o tempo 'fraco').
Pés básicos
Troqueu
Um troqueu, ou coreu, é um pé métrico que consiste de uma sílaba longa (tônica) seguida de um sílaba breve (átona).
Iambo
O Iambo é um pé métrico constituído por uma sílaba breve e outra longa.
Dáctilo
O Dáctilo é um pé métrico formado por uma sílaba longa seguida de duas breves (ao tetrâmetro dáctilo dá-se o nome de alcmânico ou alcmânio – de Álcman, poeta grego que se utilizava muito desse metro)
Anapesto
Um pé anapesto tem duas sílabas breves seguida de uma sílaba longa.
Escansão
Escansão é o ato de determinar e (geralmente) representar graficamente o caráter métrico de um verso.
Na literatura mundial existem diversos sistemas de escansão nos quais se considera pressupostos que estão subjacentes implicando em serem alguns contraditórios pelas diferenças em escandir, muitas das quais indicando entendimentos conflitantes de caráter linguísticos, fonéticos, diferenças objetivas e práticas ou mesmo utilizando argumentos banais como 'ter melhor ouvido' para um verso.
Aguns métodos têm tido maior ou menor relevância conforme adotados por autores consagrados (como Edgar Allan Poe que referendou a notação 'ictic' e 'nonictic') e universidades de prestígio (como a Princenton que referendou a notação 'Barra & X').
Aqui apresentamos algumas notações como exemplos a partir do 'pé' Iambo.
Usando-se a notação 'barra e x' podemos escrever a representação do Iambo assim:
ra lé
Uma árvore de representação alternativa para um Iambo.
F = foot (pé), σ = syllable (sílaba).
A sílaba tônica é indicada, desde o pé pela linha vertical.
ra lé
Uma representação do Iambo. Os x's entre parênteses são as sílabas, o x superior indica a posição da sílaba longa (tônica).
Pode-se usar como notação uma '˘' (breve) representando a sílaba breve (átona) e uma '/' (barra ou ictus) representando a sílaba longa (tônica):
Por uma eventual dificuldade de se representar o símbolo ˘ (breve) comumente ele é substituído por U :
Referências:
Adma Muhana, “Poesia e pintura, ou, Pintura e poesia: tratado seiscentista de Manuel Pires de Almeida”, São Paulo: EDUSP, 2002, 287 p.
Douglas Tufano, “Estudos de Literatura Brasileira”, São Paulo: Moderna, 1988, 321 p.
Luiz Antonio Sacconi, ‘Nossa gramática: teoria e prática’, São Paulo: Atual, 1994, 524 p.
Martin J. Duffell, “A New History of English Metre”, Leeds: MHRA, 2008, 292 p.
Paulo Camelo, “O ritmo, a métrica, o pé”, http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/43631
Tesouro da Juventude, “Livro da Poesia’, São Paulo: Brasileira, 1956, 18 volumes.
A Poesia como gênero literário
Os gêneros literários são definidos conforme uma sistematização da Literatura que permite a classificação das obras literárias de acordo com critérios semânticos, sintáticos, fônicos, discursivos, formais, contextuais, situacionais e afins.
Desse modo, os gêneros literários são modelos de estruturação formal e temática da obra literária que oferecem ao autor como um esquema prévio à criação de sua obra.
A retórica clássica definiu a classificação dos gêneros literários em três grupos importantes: lírico, épico e dramático.
A palavra ‘lírico’ deriva de ‘lira’, instrumento musical usado na Grécia Clássica, já há alguns séculos antes de Cristo. Nessa época, dava-se o nome de lírica à canção entoada ao som da lira. Essa união original entre os versos e a música fez com que o ritmo fosse a característica mais marcante da obra lírica. Na Idade Média, a lira foi substituída por outros instrumentos como a viola e o alaúde. Por volta do século XV ocorreu a separação entre os versos e o acompanhamento musical, fazendo com que o texto lírico deixasse de ser cantado para ser declamado ou lido. Assim, a musicalidade dos versos passou a ser elaborada no interior da própria linguagem poética, com os poetas desde então ir explorando cada vez mais o ritmo e a sonoridade das palavras.
A poesia, ou gênero lírico, ou lírica é uma das Sete Artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos. Conforme Manuel Pires de Almeida (in Manuscrito da Torre do Tombo, Lisboa "Discurso sobre o poema heróico", 1633) "Poesia, segundo o modo de falar comum, quer dizer duas coisas. A arte, que a ensina, e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra poema, o poeta o artífice."
Versificação
Do latim ‘versificatio’, versificação é a Arte, o sistema ou método de fazer versos. Versificação também descreve o molde dos versos, a maneira porque os versos se acham contornados numa determinada composição métrica.
Verso é o nome de cada linha de um poema ou poesia.
O conjunto de versos se chama ‘estrofe’ ou ‘estância’.
Uma estrofe de dois versos se chama ‘dístico’, a de três versos ‘terceto’, a estrofe de quatro versos é ‘quadra’ ou ‘quarteto’, a de cinco versos é ‘quintilha’, a estrofe de seis versos ‘sextilha’, a de sete versos é ‘setilha’, a de oito versos é ‘oitava’ e a estrofe de dez versos se chama ‘décima’.
Quando o verso se repete no fim das estrofes temos o ‘estribilho’.
Os elementos comuns do verso são ‘metro’, ‘ritmo’ e ‘rima’.
Metro
Denomina-se ‘metro’ de um verso a extensão da linha poética, conformada pelo número de ‘sílabas poéticas’ ou ‘sílabas métricas’ do verso.
Na Poética de nossa língua portuguesa são admitidos versos de uma a doze sílabas, sendo considerados os versos com mais de doze sílabas como ‘bárbaros’.
As sílabas de um verso recebem o nome de ‘sílabas métricas’ ou ‘sílabas poéticas’. As ‘sílabas métricas’, diferentemente das sílabas gramaticais, são aquelas que se contam ‘auditivamente’, obedecendo a certos princípios:
a) quando houver vogal no fim de uma palavra e vogal no início da palavra seguinte, formando ‘ditongo’ (como exemplos: grande amor = gran-dia-mor; campo alcatifado = cam-pual-ca-ti-fa-do) ou ‘crase’ (minha alma = mi-nhal-ma; santo orvalho = san-tor-va-lho), conta-se apenas uma sílaba;
b) a contagem de sílabas métricas no verso se faz somente até a sílaba tônica da última palavra;
c) os ditongos, geralmente, formam uma só sílaba métrica, assim temos: pá-tria, quei-xu-me, a-cor-dou, su-biu, lá-bios;
d) geralmente os hiatos mantêm as vogais separadas como em: ru-í-do; bo-a; re-cu-a; ven-ta-ni-a.
Número de Sílabas Poéticas num Verso: Classificação
Comumente, quanto ao número de sílabas métricas os versos podem ser ‘pentassílabos’ (ou ‘redondilhas menores’), com 5 sílabas poéticas; ‘hexassílabos’, com 6 sílabas poéticas; ‘heptassílabos’ (ou ‘redondilhas maiores’), com 7 sílabas poéticas; ‘octassílabos’, com 8 sílabas métricas; ‘encassílabos’, com 9 sílabas poéticas; ‘heróicos’ e ‘sáficos’, com 10 sílabas métricas; ‘hendecassílabos’, com 11 sílabas poéticas e ‘dodecassílabos’ (ou ‘alexandrinos’), com 12 sílabas métricas.
Processos Fonéticos de Ajuste
Os poetas podem recorrer a vários processos fonéticos para que o metro seja ajustado. Podemos citar como principais:
a) a ‘crase’ que é a fusão de duas vogais numa só como: pode exaltar = po-de-xal-tar; santo orvalho = san-tor-va-lho;
b) a ‘elisão’ (ou sinalefa) que é a queda da vogal átona final de uma palavra quando a seguinte começa por vogal, como: canta um = can-tum; minha infância = mi-nhin-fân-cia;
c) a ‘ditongação’ que é a fusão de uma vogal átona final com a seguinte formando ditongo, como: grande amor (‘i’) = gran-dia-mor; campo alcatifado (‘u’) = cam-pual-ca-ti-fa-do; meigo amigo (‘u’) = mei-gua-mi-go;
d) a ‘sinérese’ que é a transformação de um hiato em ditongo, como: crueldade = cruel-da-de; violeta = vio-le-ta;
e) a ‘diérese’ que é a transformação de um ditongo em hiato, como: saudade = sa-u-da-de; vaidade = va-i-da-de;
f) a ‘ectlipse’ que é a queda de um fonema nasal final para que haja ‘crase’ ou ‘ditongação’, assim: com o = co; com os = cos; com a = coa; com as = coas;
g) a ‘aférese’ que é a queda de sílabas ou fonemas iniciais, como: ainda = inda; estamos = ‘stamos;
h) ‘síncope’ que é a queda de um fonema no meio da palavra, como: esperança = esp’rança; deveria = dev’ria; pérola = per’la;
i) ‘apócope’ que é a queda do fonema no fim da palavra, como: mármore = mármor; cárcere = cárcer; vale = val;
j) a ‘prótese’ que é o acréscimo de fonema no início da palavra, como: levantar = alevantar; mostra = amostra;
k) a ‘paragoge’ (ou ‘epítese’) que é o acréscimo de fonema no final da palavra, como: mártir = mártire; cantar = cantare;
l) a ‘diástole’ que é a deslocação do acento para a sílaba seguinte, como Cleópatra = Cleopatra; álacre = alacre;
m)a ‘sístole’ (inverso de diástole) que é a deslocação do acento para a sílaba anterior, como: Dario = Dário; calmaria = calmária;
n) a ‘metátese’ que é a transposição de um fonema na própria palavra, como: rosário = rosairo;
Ritmo
O ‘ritmo’ é a musicalidade do verso. Para que um verso tenha ritmo usam-se sílabas fortes e sílabas fracas, com intervalos regulares. Uma sequência rigorosa dessas sílabas (fortes e fracas) é que dá ao verso musicalidade, harmonia e beleza.
Rima
A rima é a identidade ou semelhança de sons a partir da vogal tônica entre duas ou mais palavras.
Comumente classificam-se as rimas em:
a) ‘soante’ (ou ‘consoante’) – quando a correspondência entre vogais e consoantes é perfeita, como: fino/menino; lavada/calçada; atroz/nós; feio/seio; fez/mês;
b) ‘toante’ (ou ‘assoante’) – quando a correspondência é apenas de vogais tônicas, como: satírico/espírito; tarde/esperar-te;
c) ‘perfeita’ – quando as vogais tônicas são idênticas no timbre, como: céu/véu; fosse/doce; agora/mora;
d) ‘imperfeita’ – quando há diferença no timbre ou quando uma das palavras possui um fonema a mais que a outra, como: céu/meu; fosse/posse; estrela/vela; mudo/surdo; virgem/vertigem; nus/azuis;
e) ‘pobre’ – quando a rima é valorada com palavras da mesma classe, como: amor/flor (substantivos); amar/calar (verbos); doloroso/amoroso (adjetivos);
f) ‘rica’ – quando a rima é valorada com palavras de classes diferentes, como: arde/covarde (verbo e adjetivo); penas/apenas (substantivo e palavra denotativa); fino/menino (adjetivo e substantivo);
g) ‘preciosa’ – quando a rima é valorada sendo formada por três palavras, como: vê-la/estrela; vê-lo/novelo; sê-lo/pêlo; há-de/saudade;
h) ‘rara’ – quando a rima se forma entre palavras de terminação incomum, como: cisne/tisne; estirpe/extirpe;
Pé
O pé (gr. ποῦς, lat. pes) é a unidade básica rítmica do poema. Como se sabe, no advento da poesia o poeta recitava seus poemas acompanhado da lira ou marcando o ritmo com o pé, de onde veio a denominação ‘pé’, sendo considerado o ‘alicerce fundamental’ da poesia.
Um pé pode ser composto de diversas sílabas e uma única palavra pode conter muitos pés. Também um pé pode, muitas vezes, servir como ponte em várias palavras, contendo, por exemplo, a última sílaba de uma palavra mais a primeira da próxima.
Em cada 'pé', uma das sílabas determina a 'descida' do pé (ou golpe) que marca o ritmo (o tempo 'forte') e outra sílaba condiciona a 'elevação' do pé (o tempo 'fraco').
Pés básicos
Troqueu
Um troqueu, ou coreu, é um pé métrico que consiste de uma sílaba longa (tônica) seguida de um sílaba breve (átona).
Iambo
O Iambo é um pé métrico constituído por uma sílaba breve e outra longa.
Dáctilo
O Dáctilo é um pé métrico formado por uma sílaba longa seguida de duas breves (ao tetrâmetro dáctilo dá-se o nome de alcmânico ou alcmânio – de Álcman, poeta grego que se utilizava muito desse metro)
Anapesto
Um pé anapesto tem duas sílabas breves seguida de uma sílaba longa.
Escansão
Escansão é o ato de determinar e (geralmente) representar graficamente o caráter métrico de um verso.
Na literatura mundial existem diversos sistemas de escansão nos quais se considera pressupostos que estão subjacentes implicando em serem alguns contraditórios pelas diferenças em escandir, muitas das quais indicando entendimentos conflitantes de caráter linguísticos, fonéticos, diferenças objetivas e práticas ou mesmo utilizando argumentos banais como 'ter melhor ouvido' para um verso.
Aguns métodos têm tido maior ou menor relevância conforme adotados por autores consagrados (como Edgar Allan Poe que referendou a notação 'ictic' e 'nonictic') e universidades de prestígio (como a Princenton que referendou a notação 'Barra & X').
Aqui apresentamos algumas notações como exemplos a partir do 'pé' Iambo.
Usando-se a notação 'barra e x' podemos escrever a representação do Iambo assim:
ra lé
Uma árvore de representação alternativa para um Iambo.
F = foot (pé), σ = syllable (sílaba).
A sílaba tônica é indicada, desde o pé pela linha vertical.
ra lé
Uma representação do Iambo. Os x's entre parênteses são as sílabas, o x superior indica a posição da sílaba longa (tônica).
Pode-se usar como notação uma '˘' (breve) representando a sílaba breve (átona) e uma '/' (barra ou ictus) representando a sílaba longa (tônica):
Por uma eventual dificuldade de se representar o símbolo ˘ (breve) comumente ele é substituído por U :
Referências:
Adma Muhana, “Poesia e pintura, ou, Pintura e poesia: tratado seiscentista de Manuel Pires de Almeida”, São Paulo: EDUSP, 2002, 287 p.
Douglas Tufano, “Estudos de Literatura Brasileira”, São Paulo: Moderna, 1988, 321 p.
Luiz Antonio Sacconi, ‘Nossa gramática: teoria e prática’, São Paulo: Atual, 1994, 524 p.
Martin J. Duffell, “A New History of English Metre”, Leeds: MHRA, 2008, 292 p.
Paulo Camelo, “O ritmo, a métrica, o pé”, http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/43631
Tesouro da Juventude, “Livro da Poesia’, São Paulo: Brasileira, 1956, 18 volumes.