Poetrix, Duplix, Triplix e Multiplix

O Poetrix é um gênero literário criado pelo poeta baiano Goulart Gomes que foi inspirado nos haikais japoneses. Mas não são a mesma coisa, embora se diga que o poetrix é o haikai brasileiro. Não. O Haicai e o Poetrix são dois gêrneros poéticos com regras distintas, embora o primeiro, tenha originado o segundo.

O poetrix é composto por um terceto, isto é, uma estrofe com três versos, com no máximo 30 sílabas poéticas. Mas não é só. O poetrix não é um encadeamento de frases. São frases distinttas que, no conjunto, têm um significado.

É um poema minimalista, isto é, com o mínimo de gordura possível. É formado por versos concisos, enxutos. Quanto menos, melhor.

E precisa de um título, que não deve ser computado na contagem das sílabas do poema. 

Uma característica importante dos poetrix é que eles admitem a rima, embora esta não seja obrigatória, diferentemente dos haicais japoneses.

Bem, já tinha composto alguns poetrix que, talvez, nem todos sigam estas regras. Mas não tinha nenhuma idéia do que fossem duplix, triplix, multiplix... Resolvi então investigar sobre o assunto. Encontrei alguma coisa na página da poetisa e recantista Kate Weiss, mas deficitária. Ela fala quase que só de duplix e, o que fala sobre triplix está obscuro e com alguma dubiedade ou mesmo incorreção, embora ela tenha transcrito um texto de uma das criadoras do gênero, Tê Soares.

Continuei pesquisando e, com alguma dificuldade, findei por encontrar um texto bastante elucidativo, que abaixo transcrevo, de autoria da poetisa Mardilê Friedrich. Faço menção, no final, de onde ele foi extraído. Ele poderá servir de orientação para outros que, como eu, desejam praticar.

Uma coisa importante sobre estas modalidades de poetrix é que, necessariamente, os poetrix que compõem ou um duploix, ou triplix, ou multiplix, devem ser de autores distintos, diferentes. Isso, certamente, para incentivar a parceria entre poetas e poetisas.

Ou seja: compor um duplix ou um triplix, não é só juntar 2 ou 3 poetrix, respectivamente. Primeiro eles precisam ser de pelo menos dois autores diferentes. E segundo, eles precisam ter coerência entre os versos de cada poetrix. Isto é, como o duplix ou o triplix (e também o multiplix) são escritos lado a lado, separados por duas barras paralelas, o primeiro verso do segundo poetrix, tem que complementar o primeiro verso do primeiro poetrix e assim sucessivamente. É como se fosse um desafio de cordel.

(Alberto Valença Lima)


Formas múltiplas do poetrix: duplix, triplix, multiplix

(Mardilê Friedrich)

"Entre as formas múltiplas do poetrix reconhecidas pelo Movimento Internacional Poetrix (MIP), estão o duplix, o triplix e o multiplix, sobre os quais falamos neste texto.

DUPLIX

Forma poética criada por Pedro Cardoso e Tê Soares.
É composto por dois poetrix de autores diferentes, um complementando o outro, do título aos versos, formando uma nova compasição poética.
(Obs. [de Alberto Valença] A palavra composição acima, está grafada errada, pois é assim que ela se encontra no texto original. Como estou fazendo uma transcrição não tenho o direito de alterar. Observe que o texto está entre aspas.) 

Observe-se:
1 – os dois poetrix devem conservar sua independência;
2 – a leitura deve ter sentido tanto horizontalmente como verticalmente;
3 – o duplix pode completar o poetrix tanto à direita como à esquerda (neste segundo caso, chama-se duplix raro, por ser menos comum);
4 – separam-se os poetrix por // (duas barras);
5 - cada poetrix com, no máximo, 30 sílabas poéticas, ficando o novo poema com, no máximo, 60 sílabas poéticas;
6 – deve constar os nomes dos autores nos seus respectivos poetrix.
7 - cada poetrix que forma o duplix tem que ser independente, mas quando formam o duplix são um todo na sequência horizontal e de versos.
8 - deve ser respeitada a pontuação.




Sem Você // Feneço

A música emudeceu, // o violão não tangeu,
a poesia calou. //A rosa murchou,
Meu coração invernou. // Minha alma trespassou.

Mariah Bonitah // Mardilê Fabre



TRIPLIX


É formado por três poetrix de, no mínimo, dois autores.
Como no duplix, também no triplix:

1 – títulos e versos se completam, resultando num novo poema;
2 – os três poetrix devem ser independentes;
3 – a leitura deve ter sentido tanto horizontal quanto verticalmente;
4 - cada poetrix com, no máximo, 30 sílabas poéticas, ficando o novo poema com, no máximo, 90 sílabas poéticas;
5 – deve contar o nome dos autores nos seus poetrix.
Este tipo de poema foi criado por Pedro Cardoso e Tê Soares.




Distante // Redescoberta // O Dia Seguinte

olhos além // horizonte d'alma // se contorce
experiência vem // transcendente ótica // ...é saudade
frágil gesto // sutil descoberta...// recomeço!

Mardilê Fabre// Marilândia Rollo // Miguel Gonçalves




MULTIPLIX

Poema constituído por quatro ou mais poetrix, seguindo as mesmas normas do duplix e do triplix.
Seus criadores foram: Sávio Drummond, Sara Fazib, Pedro Cardoso e Fausto Valle.


De tudo que sei // De tudo que posso // De tudo que sinto // De tudo que vejo

Sei meias verdades // realizo meias ideias // meio inconsequente // meio embaçado
Pintadas em inteiros // surgidas na mente // as palavras se contradizem // num piscar de olhos
Do que penso saber // tropeçam nos meios-fios da realidade // fundem-se com as in_verdades // são vultos da irrealidade.

Gilnei Nepomuceno // Mardilê Fabre // Fátima Mota // Mari Saes"

 

 

 

ESCLARECENDO UMA DÚVIDA

(Alberto Valença Lima)

 

Uma leitora, Joceilma Ferreira Dantas, deixou em um comentário, uma pergunta que pode ajudar outras pessoas a entender melhor o que seja um duplix, triplix e multiplix. Por isso vou pubicar aqui a resposta ao que ela questionou.

Ela questionou: "Gostaria de saber, se para forma um dueto oi um trio, pode-se criar um personagem autor, que seja ficcional, ou seja, eu posso construir esse personagem?"

Logo a seguir está a resposta.

 

Não, não é possível construir personagens. O duplix é um outro poetrix que complemente o poetrix que o originou. E só pode ser criado após a permissão do autor do poetrix original. Não é uma coisa que o autor do duplilx cria ao seu bel prazer. Ele tem que pedir permissão ao autor do poetrix original.

Vou tomar como exemplo um duplix que eu fiz com o poeta Lorenzo, atual presidente da confraria poetrix.

 

PALAVRAS AO TEMPO // LEVADAS AO LÉU


Lorenzo // Alberto Valença Lima

As palavras me buscam // O vento leva pra longe
Eu, serei escrita // Folhas dos versos que fiz
Para um aliviar eterno. // Das horas que não te quis.

 

Primeiro, ele compôs o poetrix "Palavras ao tempo" que está acima com letras pretas. Eu compus o poetrix "Levadas ao léu", que está acima com letras azuis.

Estes poetrix são independentes. Um não precisa do outro pra existir.

Mas, o meu poetrix, complementa o dele. Então eu pedi permissão a ele para juntar os dois. A permissão não foi dada de imediato. Não recordo agora o que tive que mudar para ele aceitar. Mas houve mudanças. E resultou o que se encontra aí. Não é um dueto. São dois poetrix independentes, que se complementam ao serem colocados juntos. Ah! Uma coisa que ía esquecendo. Se ele não desse a permissão, eu não poderia fazer o duplix. Porque o duplix só pode existir com o poetrix original. Como é dele a autoria, eu não poderia usá-lo se ele não autorizasse.

 

Espero que tenha ficado esclarecido.

Alberto Valença Lima


Referências

Mardilê Friedrich, postado em "Composições literárias: Como criar poemas" publicado no blog "Como criar poemas" disponível em http://comocriarpoemas.blogspot.com.br/2014/11/formas-multiplas-do-poetrix-duplix.html consultado em 29/abr/2018.

Movimento internacional poetrix disponível em http://www.movimentopoetrix.com/
citado pelo blog Como criar poemas no artigo acima.

Alberto Valença Lima e Mardilê Friedrich
Enviado por Alberto Valença Lima em 30/04/2018
Reeditado em 21/07/2022
Código do texto: T6322943
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