Como fazer ou o que é um Cordel
Cordel é um estilo literário, isto é, uma modalidade literária, praticada especialmente no Nordeste do Brasil e, posteriormente, difundido para todo o Brasil, em especial, para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, local onde se encontra a Academia Brasileira de Literatura de Cordel.
Para ser considerado um cordel, coisa que poucas pessoas sabem, o poema deve ter, no mínimo, 12 estrofes. Por que isso? A literatura de cordel foi desenvolvida através de publicações artesanais, publicada em livretos de poucas páginas, impressas em papel de baixa qualidade e, geralmente, no tamanho de metade de uma folha A4 para impressão de cada 4 páginas. Estes livretos eram expostos em feiras livres pendurados em cordões (daí o nome cordel) e são compostos para declamação. Pois bem, como em cada meia folha de A4 dobrada ao meio, são impressas 4 páginas (2 de um lado e 2 do outro lado) e como, em cada página, cabem pelo menos duas estrofes, em meia folha de A4 cabem 8 estrofes no mínimo. Cada folheto deve ter pelo menos duas meias folhas de A4, pois é preciso uma capa e uma contracapa, sobrando portanto, mais duas páginas, onde cabem mais, pelo menos 4 estrofes, totalizando assim 12 estrofes. Mas podem ter muito mais. Tem cordéis que contam com mais de 40 estrofes. Mas, se tiver menos de 12 estrofes não pode ser chamado de cordel. É um poema em estilo de cordel.
A literatura de cordel é praticada sob diversas formas. Os versos em geral, são reunidos em sextilhas (estrofes de seis versos). Mas também podem ser em quadras (4 versos), septilhas (7 versos), oitavas (8 versos), décimas (10 versos), martelo, galope à beira-mar, entre outras.
As sextilhas obedecem à estrutura de rimas alternadas com versos heptassílabos (sete sílabas poéticas) com rimas nos segundo, quarto e sexto versos, ficando os demais com rimas brancas, isto é, sem rimas.
Resumidamente, é isso que você precisa saber para fazer um cordel. Caso não saiba o que é uma sílaba poética, ou não saiba como conta-las, leia o texto que escrevi sobre o assunto no link abaixo.
Como fazer a contagem das sílabas poéticas?
Seus comentários serão muito bem vindos. E todos serão retribuídos.
Para exemplificar, reproduzo a seguir um cordel famoso do poeta Gonçalo Ferreira da Silva.
"Quem perde o tempo no mundo
Só com conversa fiada
Bota falta em todo mundo,
Não nota virtude em nada
Se acaso engolisse a língua
Morreria envenenada.
Às vezes contam estória
Que nem sequer faz sentido
Que no dia de São Nunca
Talvez tenha acontecido
Da mulher que deu tabaco
Na presença do marido.
Dona Juca era dotada
De perfumado sovaco,
E quem ferisse uma perna
Numa queda ou num buraco
Ela curava a ferida
Com o seu próprio tabaco.
Quando ela via uma
Desventurada pessoa
Horrivelmente gripada
Soltando espirros à toa
Dava o tabaco e aquela
Enferma ficava boa.
Seu marido Mororó
Dizia: – Você me insulta,
Quanto mais dá seu tabaco
Mais a multidão se avulta
Assim, ou para com isso
Ou eu vou cobrar consulta.
Mas Dona Juca dizia:
– Essa bobagem não faça,
Quando eu tenho algumas pratas
Você bebe de cachaça
Cobre pelo seu trabalho
Meu tabaco eu dou de graça.
Pau da vida, Mororó
Respondeu: – Aqui ninguém
Vai mais pedir seu tabaco
Pois pra mim não pega bem
Quem pedir o seu tabaco
Você diga que não tem.
Porém como aquilo tinha
Que acontecer um dia
Quanto mais passava o tempo
Mais a multidão crescia
Procurando a Dona Juca
Em magistral romaria.
Pra mostrar que Dona Juca
Tinha mesmo grande prova
Basta dizer que uma velha
Já com os dois pés na cova
Foi visitar Dona Juca
Pra pedir pra ficar nova.
Dizia a velha aos presentes
– Não pensem que sou maluca
sou velha porém não tenho
qualquer problema na cuca
tenho fé no milagroso
tabaco da Dona Juca.
E disse mais a velhinha:
-Todo mundo tem fé nela
não há esse que não queira
ao menos sonhar com ela
pedir pra sentir o cheiro
que tem o tabaco dela.
Conselhos de medicina
Da nossa grande nação
Pediram que o governo
Procedesse intervenção
De Juca o curandeirismo
A pronta proibição.
A população local
Lançou logo um manifesto
E contra a proibição
Uma nota de protesto
Achando que o conselheiro
Devia ser mais modesto.
A imprensa curiosa
Rádio, TVs e Jornais,
Volantes de reportagens,
As emissoras locais
Mandaram à casa de Juca
Os seus profissionais.
Muitas pessoas movidas
Por humanos sentimentos
Na casa de Dona Juca
Armaram acampamentos
Assistindo a cobertura
De tais acontecimentos.
E os poetas distantes
Da vigilância do rapa
Faziam suas propagandas
Enquanto bebiam garapa
Exibindo seus folhetos
Com Dono Juca na capa.
Numa bengala escorado
Um doente entrou na sala
Quando cheirou o tabaco
Readquiriu a fala
Pra provar que ficou bom
Rebolou fora a bengala.
Contente da vida, ele
Por ter salvo a sua vida
Graças ao santo tabaco
Da Dona Juca querida
E esta era por todos
Sinceramente aplaudida.
Nunca a fama de um vivente
Depressa se espalhou tanto
Nos quatro cantos do mundo
O seu nome em cada canto
Desfrutava do respeito
Do mais milagroso santo.
Quando nem a medicina
Dava esperança sequer
Ao enfermo, ele inda tinha
Uma fezinha qualquer
No tabaco milagroso
Daquela santa mulher.
E a própria natureza
Como que para testar
O poder que possuia
O tabaco de curar
Fez aparecer doenças
Muito estranhas no lugar.
Por exemplo na cabeça
Dum sujeito ainda moço
Apareceu certo dia
Uma espécie de caroço
Um par de colossais chifres
Um mais fino, outro mais grosso.
O rapaz, secretamente,
Foi ao lar de Dona Juca
E disse: – Um dia eu senti
Na testa uma dor maluca
Depois nasceu esses troços
No alto da minha cuca.
Dona Juca disse: – O meu
Tabaco pode curar
Porém a sua mulher
Terá que colaborar
Pois do jeito que ela faz
Nem adianta tentar.
Este negócio de chifre
Não é um costume novo
Eu esfrego meu tabaco,
Ela pede fumo ao povo,
Eu sei que existe a chuva
Porém eu mesmo não chovo.
O rapaz chegando em casa
Disse pra Conceição:
-O milagroso tabaco
me tira desta aflição
no entanto é necessário
sua colaboração.
Conceição disse assustada:
-Colaborar? Como assim?
Não dê mais o seu tabaco
Não seja assim tão ruim…
É você dando o tabaco
E nascendo chifre em mim.
Aí Conceição cortou
Os males pelas raízes
E o pobre rapaz dos chifres
Também superou as crises
Viveram oitenta anos
Extremamente felizes.
Dona Juca recebeu
Parabéns do Doutor Zeca
Que fizera experiência
Com sua própria cueca
E não conseguiu nascer
Cabelo em sua careca.
Passando a careca
No tabaco prodigioso
Ficou cabeludo e Zeca
Se tornou em fervoroso
Romeiro de Santa Juca
Do tabaco milagroso."
Cordel é um estilo literário, isto é, uma modalidade literária, praticada especialmente no Nordeste do Brasil e, posteriormente, difundido para todo o Brasil, em especial, para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, local onde se encontra a Academia Brasileira de Literatura de Cordel.
Para ser considerado um cordel, coisa que poucas pessoas sabem, o poema deve ter, no mínimo, 12 estrofes. Por que isso? A literatura de cordel foi desenvolvida através de publicações artesanais, publicada em livretos de poucas páginas, impressas em papel de baixa qualidade e, geralmente, no tamanho de metade de uma folha A4 para impressão de cada 4 páginas. Estes livretos eram expostos em feiras livres pendurados em cordões (daí o nome cordel) e são compostos para declamação. Pois bem, como em cada meia folha de A4 dobrada ao meio, são impressas 4 páginas (2 de um lado e 2 do outro lado) e como, em cada página, cabem pelo menos duas estrofes, em meia folha de A4 cabem 8 estrofes no mínimo. Cada folheto deve ter pelo menos duas meias folhas de A4, pois é preciso uma capa e uma contracapa, sobrando portanto, mais duas páginas, onde cabem mais, pelo menos 4 estrofes, totalizando assim 12 estrofes. Mas podem ter muito mais. Tem cordéis que contam com mais de 40 estrofes. Mas, se tiver menos de 12 estrofes não pode ser chamado de cordel. É um poema em estilo de cordel.
A literatura de cordel é praticada sob diversas formas. Os versos em geral, são reunidos em sextilhas (estrofes de seis versos). Mas também podem ser em quadras (4 versos), septilhas (7 versos), oitavas (8 versos), décimas (10 versos), martelo, galope à beira-mar, entre outras.
As sextilhas obedecem à estrutura de rimas alternadas com versos heptassílabos (sete sílabas poéticas) com rimas nos segundo, quarto e sexto versos, ficando os demais com rimas brancas, isto é, sem rimas.
Resumidamente, é isso que você precisa saber para fazer um cordel. Caso não saiba o que é uma sílaba poética, ou não saiba como conta-las, leia o texto que escrevi sobre o assunto no link abaixo.
Como fazer a contagem das sílabas poéticas?
Seus comentários serão muito bem vindos. E todos serão retribuídos.
Para exemplificar, reproduzo a seguir um cordel famoso do poeta Gonçalo Ferreira da Silva.
A mulher que deu tabaco na presença do marido
(Gonçalo Ferreira da Silva)"Quem perde o tempo no mundo
Só com conversa fiada
Bota falta em todo mundo,
Não nota virtude em nada
Se acaso engolisse a língua
Morreria envenenada.
Às vezes contam estória
Que nem sequer faz sentido
Que no dia de São Nunca
Talvez tenha acontecido
Da mulher que deu tabaco
Na presença do marido.
Dona Juca era dotada
De perfumado sovaco,
E quem ferisse uma perna
Numa queda ou num buraco
Ela curava a ferida
Com o seu próprio tabaco.
Quando ela via uma
Desventurada pessoa
Horrivelmente gripada
Soltando espirros à toa
Dava o tabaco e aquela
Enferma ficava boa.
Seu marido Mororó
Dizia: – Você me insulta,
Quanto mais dá seu tabaco
Mais a multidão se avulta
Assim, ou para com isso
Ou eu vou cobrar consulta.
Mas Dona Juca dizia:
– Essa bobagem não faça,
Quando eu tenho algumas pratas
Você bebe de cachaça
Cobre pelo seu trabalho
Meu tabaco eu dou de graça.
Pau da vida, Mororó
Respondeu: – Aqui ninguém
Vai mais pedir seu tabaco
Pois pra mim não pega bem
Quem pedir o seu tabaco
Você diga que não tem.
Porém como aquilo tinha
Que acontecer um dia
Quanto mais passava o tempo
Mais a multidão crescia
Procurando a Dona Juca
Em magistral romaria.
Pra mostrar que Dona Juca
Tinha mesmo grande prova
Basta dizer que uma velha
Já com os dois pés na cova
Foi visitar Dona Juca
Pra pedir pra ficar nova.
Dizia a velha aos presentes
– Não pensem que sou maluca
sou velha porém não tenho
qualquer problema na cuca
tenho fé no milagroso
tabaco da Dona Juca.
E disse mais a velhinha:
-Todo mundo tem fé nela
não há esse que não queira
ao menos sonhar com ela
pedir pra sentir o cheiro
que tem o tabaco dela.
Conselhos de medicina
Da nossa grande nação
Pediram que o governo
Procedesse intervenção
De Juca o curandeirismo
A pronta proibição.
A população local
Lançou logo um manifesto
E contra a proibição
Uma nota de protesto
Achando que o conselheiro
Devia ser mais modesto.
A imprensa curiosa
Rádio, TVs e Jornais,
Volantes de reportagens,
As emissoras locais
Mandaram à casa de Juca
Os seus profissionais.
Muitas pessoas movidas
Por humanos sentimentos
Na casa de Dona Juca
Armaram acampamentos
Assistindo a cobertura
De tais acontecimentos.
E os poetas distantes
Da vigilância do rapa
Faziam suas propagandas
Enquanto bebiam garapa
Exibindo seus folhetos
Com Dono Juca na capa.
Numa bengala escorado
Um doente entrou na sala
Quando cheirou o tabaco
Readquiriu a fala
Pra provar que ficou bom
Rebolou fora a bengala.
Contente da vida, ele
Por ter salvo a sua vida
Graças ao santo tabaco
Da Dona Juca querida
E esta era por todos
Sinceramente aplaudida.
Nunca a fama de um vivente
Depressa se espalhou tanto
Nos quatro cantos do mundo
O seu nome em cada canto
Desfrutava do respeito
Do mais milagroso santo.
Quando nem a medicina
Dava esperança sequer
Ao enfermo, ele inda tinha
Uma fezinha qualquer
No tabaco milagroso
Daquela santa mulher.
E a própria natureza
Como que para testar
O poder que possuia
O tabaco de curar
Fez aparecer doenças
Muito estranhas no lugar.
Por exemplo na cabeça
Dum sujeito ainda moço
Apareceu certo dia
Uma espécie de caroço
Um par de colossais chifres
Um mais fino, outro mais grosso.
O rapaz, secretamente,
Foi ao lar de Dona Juca
E disse: – Um dia eu senti
Na testa uma dor maluca
Depois nasceu esses troços
No alto da minha cuca.
Dona Juca disse: – O meu
Tabaco pode curar
Porém a sua mulher
Terá que colaborar
Pois do jeito que ela faz
Nem adianta tentar.
Este negócio de chifre
Não é um costume novo
Eu esfrego meu tabaco,
Ela pede fumo ao povo,
Eu sei que existe a chuva
Porém eu mesmo não chovo.
O rapaz chegando em casa
Disse pra Conceição:
-O milagroso tabaco
me tira desta aflição
no entanto é necessário
sua colaboração.
Conceição disse assustada:
-Colaborar? Como assim?
Não dê mais o seu tabaco
Não seja assim tão ruim…
É você dando o tabaco
E nascendo chifre em mim.
Aí Conceição cortou
Os males pelas raízes
E o pobre rapaz dos chifres
Também superou as crises
Viveram oitenta anos
Extremamente felizes.
Dona Juca recebeu
Parabéns do Doutor Zeca
Que fizera experiência
Com sua própria cueca
E não conseguiu nascer
Cabelo em sua careca.
Passando a careca
No tabaco prodigioso
Ficou cabeludo e Zeca
Se tornou em fervoroso
Romeiro de Santa Juca
Do tabaco milagroso."