INDIGENTE
Numa esquina, fria e húmida, de uma casa,
Uma velha estende a mão e uma taça vaza
Mostrando uma lata puída e alguns tostões
Aí deixados por bem preservados corações.
E um cartão, velho, que no pescoço enlaça,
Diz o seguinte: aposentada e enferma, faça
O favor de ajudar! e nisto uns tantos rufiões
Põe-se a fazer cabriolas à velha empurrões.
Atónito fico quando vejo que não há sequer
Um gesto de afronta e um chamar de razão
Pelo que nos é dado aí ver, à pobre mulher.
Cedo pois até alcançar o olhar da indigente
E digo-lhe: se alguém, não tem ali, coração
Crê-me, tu és bem mais rica que essa gente.
Jorge Humberto
06/02/08