DILEMA

Saem sempre ao contrário, pelo avesso,

os remédios que busco para os ais,

pois, querendo lembrar, eu não me esqueço,

e, buscando esquecer, eu lembro mais ...

Quando, à noite, acordado, pago o preço

de sentir os minutos eternais,

a lembrança se aviva, e eu não esqueço,

e procuro esquecer, mas lembro mais ...

Afinal, é martírio, não bonança,

o querer reviver, numa lembrança,

primaveras em quadras outonais.

O dilema é cruel – bem reconheço –

pois, querendo lembrar, nunca me esqueço,

e é, buscando esquecer, que eu lembro mais !

Élton Carvalho

Élton Carvalho (em memória)
Enviado por Élton Carvalho (em memória) em 07/02/2008
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