PERCEPÇÃO MUDA
Confisco à noite o bálsamo do pranto
Espumo o espanto, espécie de conclave
Do medo e a dor no canto de uma ave
Que sonda e sopra surdo, sacrossanto
O meu sonhar, sem sombra de acalanto...
Sozinho e só, somente eu e a clave
De sol que soa em si bemol suave
Movendo o rosto em lágrima e quebranto.
Se sorvo a nota, expiro dissabores,
E cuspo o sal insosso de si próprio;
Ao pé da pausa, anulo seus valores,
Até quedar-me inerte nesse ópio
Do sono astral que abranda os temores
E põe-se a olhar a sorte no horoscópio.
[s.d.]