"A INCONSTÂNCIA dos BENS do MUNDO" (*)

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da Luz se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas, a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?

Se formosa a Luz é, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,

Na formosura não se dê constância,

E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A firmeza somente na inconstância.

"DE L'INSTABILITÉ DES CHOSES DE CE MONDE"

Le Soleil point, mais ne brille pas plus d'un jour,

La lumière bientôt se masque en nuit obscure,

L'ombre triste s'étend quand meurt la clarté pure,

Tout comme la joie cède aux chagrins longs et lourds

Pourquoi s'est-il levé pour un instant si court,

Le Soleil? C'est à peine si son éclat dure.

Comment, Beauté, toi aussi tu te défigures?

Le plaisir de souffrir serait-il un recours?

Le Soleil lumineux manque de fermeté.

La beauté nie aussi toute persévérance,

Et la tristesse prend racine en la gaîté.

La science, un jour, naquit du sein de l'ignorance,

C'est un bien que la loi de nature a dicté:

La puissance du Monde est faite d'inconstance.

(*) Soneto "A Insconstância dos Bens do Mundo", de Gregório de Matos e Guerra.

Lobo da Madrugada
Enviado por Lobo da Madrugada em 18/01/2008
Reeditado em 18/01/2008
Código do texto: T823111
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