DOIS SONETOS BRANCOS

(À maneira de Drummond)

1. O Sol

Ainda cedo, ele se foi – nem eram seis horas!

Sumiu no mar, atrás da linha do horizonte

Num espetáculo de beleza e exuberância

Que encanta os olhos, desaquece o coração

Cumpriu seu dia! Aquecendo, energizando

Alumiando, gerando e crescendo a vida

Banhando os corpos, dourando-os, colorindo-os

Embelecendo o campo, a serra, a praia, o mar

No mais alto estilo, despede-se e nos deixa

Ainda acena com seus raios, enquanto cala

Sua luz pungente... É mais um dia que se esvai!

E os namorados, os amantes, os poetas

Com seus poemas, suas cantigas, seus retratos

Tão breve instante, deslumbrados, perenizam!

2. A Lua

Do outro lado, como quem segue à distância

Ela, sutil, com sua luz dócil, tão singela

Surge imponente, nas alturas, delicada

Traz em seu âmago inspiração e poesia

E mar ou serra ou sertão a ela se rendem

Cantigas, poemas, cantos de saudade e dor

Canções de amores que, achados ou perdidos

Inspiram versos, notas, sons, cordas que choram

De cá, sua luz edulcorada contemplando

Cumpro esse misto de tristura e solidão

E vou poemando, a entorpecer a consciência

E a palavra, pouco a pouco – e num quase êxtase

Vai decompondo, enteógena, o desalento

A noite, a ausência, o hiato, a vaga, o desconsolo.

Lucas Carneiro

20jul.2024

21h15