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Perfil

Lucas Almeida Carneiro é o segundo de onze filhos de Lourival Matias Carneiro e de Maria de Sousa Almeida Carneiro. São seus avós paternos Manoel Lindolfo Carneiro e Argentina Matias Carneiro, ela, neta do Capitão Américo Carneiro de Oliveira, o construtor do Cemitério das Lembranças, no distrito de Boqueirão, Boa Viagem – Ceará. Os avós maternos foram Gilberto Epifânio de Almeida (Gilberto Loriano) e Stella Sousa Almeida, ela, filha do Camundo, da Fazendo Espírito Santo, município de Monsenhor Tabosa – Ceará. Poeta, escritor, professor, revisor de textos, tradutor, artesão, cordelista membro da Academia Cearense de Cordel – ACLC, cadeira no 35, que tem como Patrono Raimundo Vicente de Santana, escreve, desde a infância, poesia, conto e crônica. Integra também os quadros da Associação Cearense de Escritores – ACE; e da Associação Cearense de Editoras Contemporâneas – ACEC.

Lucas Carneiro nasceu no Município de Boa Viagem – Ceará (localizado no Sertão de Canindé e distante 217 quilômetros da Capital, Fortaleza) no dia 16 de abril de 1964, no Trapiá dos Lindolfo, uma pequena “garra de terra” pertencente ao seu avô paterno, Lindolfo, numa casinha de taipa construída por seu pai, Lourival. Na época em que nasceu Lucas Carneiro, o Município de Boa Viagem não dispunha de uma casa de partos, fato que levou seus pais, como tantos outros, a contarem com os valiosos serviços de uma parteira. “Minha parteira, pelas mãos da qual vim ao mundo, foi Mãe Dondon, a quem, depois de adulto e pai, tive o gosto de rever, em Madalena, em viagem ao meu velho Trapiá”.

“Durante muitos anos, os únicos profissionais de saúde existentes para essa finalidade em nossa região foram as parteiras, mulheres que normalmente recebiam esse aprendizado de forma hereditária, ou seja, a filha de uma parteira acompanhava a sua mãe nos atendimentos às mulheres em trabalho de parto, auxiliando-a, de acordo com as necessidades do momento, o que possibilitava, após algum tempo de prática, o aprendizado para a continuidade do ofício” (SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael. 2016. Hospital e Casa de Saúde Adília Maria de Lima. Disponível em: http://www.historiadeboaviagem.com.br/saude/. Acesso 25 out. 2016).

Do Trapiá, Lucas Carneiro saiu com pouco mais de um ano de idade e foi morar na Fazenda Espírito Santo, de propriedade de Pai Camundo. “Acredito de isso tenha se dado entre 1965 e 1966”. Dali, voltou a família para Boa Viagem, para morar na Guia, numa casa que havia na ponta da parede do açude Zagreb, implantado nas terras do avô Gilberto. De lá, pelos idos de 1968, foi a família para dentro do povoado, Guia, “numa casinha vizinha ao motor gerador de energia elétrica. Lembro que o movimento do motor balançava as nossas redes. Dormíamos embalados pelo barulho e pelo impacto do motor”. Depois de morar noutra casinha, ainda na Guia, a viagem para Fortaleza, já na década de 1970, mais precisamente em 1971. Era mais uma família que a seca expulsava do sertão.

Quando comecei a trabalhar não me lembro. Sei que desde a casa do Zagreb, eu já era designado para a missão de pastorar passarinho, para eles não comerem o arroz plantado no “arisco”, na Baixa da Santa, ou o milharal, nas plantações de meu pai, enquanto ele fazia o serviço pesado do roçado”. Na casa da Guia, a do motor, havia um pequeno curral, no fundo do quintal, onde se mantinham duas vacas, para a alimentação das crianças: a Caraúna e a Carioca. “Caraúna era uma vaca boazinha, muito dócil, meiga até!” Na época em que morou lá, Lucas Carneiro era encarregado de buscar as vacas no cercado onde se alimentavam. Distava o cercado aproximadamente uns dois quilômetros. Isso em 1968, 1969. Mas “apenas a Caraúna, porque a Carioca era brava, não tinha cerca que a segurasse”. Conta-nos Lucas Carneiro que, certa vez, durante uma época de boas chuvas, havia muita “malícia”, um cipozinho espinhento que nascia aos montes naquelas terras. Esse espinho arranhava terrivelmente as pernas dos homenzinhos de calças curtas, penetrava e grudava na pele. Tentando evitar a “malícia”, Lucas Carneiro imitou o berro do bezerrinho da Caraúna, que veio em disparada à procura do filhote. Essa esperteza custou-lhe um grande susto: a Caraúna abaixou e balançou cabeça e chocalho bem perto dele, numa demonstração de que não havia gostada da brincadeira besta. Mas depois, passou! Ela o acompanhou docilmente até em casa. Já em Fortaleza, o pai se tornou jardineiro: construía e dava assistência aos jardins das casas dos ricos. Com oito anos, Lucas Carneiro, bem como, depois, seu irmão Antônio, dois anos mais novo, acompanhavam o pai, para o auxiliarem, aguando as plantas dos jardins. Essa atividade acabou se estendendo até os 19 anos de sua vida: trabalhava um expediente, e estudava outro. Depois, passou a estudar à noite e, aí, eram dois expedientes de trabalho e um de estudos. Em 1983, Lucas Carneiro viajou para o sul de Minas, onde cursou enfermagem e trabalhou na área de saúde por dois anos. Em 1985, a experiência com o jornal mural da escola despertou-lhe o interesse pela área da informação, e ingressou no Jornal das Geraes como encarregado pelas assinaturas, publicidade e distribuição do semanário. De volta a Fortaleza, em 1986, trabalhou como auxiliar em uma empresa de exploração de petróleo, terceirizada da Petrobras. Pouco tempo depois já sem emprego, Lucas Carneiro buscou na arte seu ganha pão, e passou a fazer macramê (artesanato com cordas, barbantes, fios, cordões) e tecelagem, por influência do amigo mineiro, Mário. Em 1990, já em janeiro, foi contratado como revisor de textos pela gráfica da Organização Educacional Farias Brito, agraciado que é por conhecimento privilegiado da língua portuguesa. Esse emprego durou até 1996. A revisão de textos perdura até o presente momento em sua vida profissional. Em 1995, por indicação do mentor e amigo Genuíno Sales e a convite do professor Valdemir Mourão, passou a ministrar aulas de espanhol no cursinho preparatório para o vestibular da Universidade Estadual do Ceará – Uece, nas cidades de Senador Pompeu, Pentecoste e São Gonçalo do Amarante. Em seguida, após ingressar no Curso de Letras, na Universidade Federal do Ceará – UFC, passou a dar aulas no CCAA, CNA, Medley, Fisk, entre outras escolas de idiomas. Depois, vieram as escolas regulares, como o Instituto Cearense, escola no Bairro Mondubim; CACD, em Quixadá e em Fortaleza; Queirós Belém, Mariano Martins; Filgueiras Lima; Perpétuo Socorro, Colégio Marista Cearense, Colégio Magister; entre outros, em Fortaleza e em várias cidades do interior do Estado, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, assim também nos cursos preparatórios para o vestibular e para o ENEM. Outra empresa importante em sua vida profissional como educador foi o Sesi Educação, em que o professor ministrou aulas nas indústrias, em Fortaleza e no interior, de 2009 a 2013. Na educação superior, ministrou aulas na UFC, como tutor semipresencial do curso de Letras Espanhol EaD, em vários polos da UNB/UFC, de 2011 a 2013. Também ministrou aulas no Instituto Educando (Sobral), nas disciplinas de linguística e de literatura, do Curso de Letras, em Boa Viagem – Ce.

Às primeiras letras teve acesso ainda na Guia, “num colégio que tem vizinho à barragem Açude Grande”, dentro do povoado. “Não me lembro o nome que a escola tinha na época”. Essa escola reservou um capítulo grotesco a sua história escolar: em uma sabatina de matemática, após uma resposta errada, a professora aplicou dois violentos “bolos” em cada uma das mãos do então estudante Lucas Carneiro. E ele nunca mais foi a essas aulas. Já em Fortaleza, em 1972, retomaria sua vida de estudante para nunca mais a deixar. Havia, no Colégio Stella Maris, uma escola de freiras, um anexo para atendimento às comunidades carentes, o Colégio Padre José Alberto Castelo, no qual estudou por dois anos – a Alfabetização, com a professora Rosimar, e a primeira série primária. Nos anos seguintes, cursaria a segunda série primária na Escola Educadora de Nova Aldeota, na Rua Desembargador Lauro Nogueira, onde morava, no então Bairro Verdes Mares, hoje Papicu. Lucas Carneiro narra um fato pilhérico: no mesmo quarteirão em que, no meio da quadra, estava a escola, havia também um cabaré, na ponta da rua: a graça disso é que o diretor da escola era o mesmo gerente do cabaré: durante o dia, ele dirigia a escola; à noite, gerenciava o “Vai quem quer”, como era conhecido o outro estabelecimento. Nos anos seguintes, terceira e quarta séries primárias no Colégio Matias Beck (Mucuripe); e o então Ginásio (concluído em 1980) no Colégio Padre José Nilson, cujo diretor era o padre que dava nome à escola, também pároco da Igreja de Nossa Senhora da Saúde, no Mucuripe. O segundo grau, fê-lo via supletivo, depois de perdidos anos de afastamento voluntário da escola regular, o que não o impedira, no entanto, de cursar italiano, durante quatro anos, no Núcleo de Línguas da Uece, e espanhol, na Casa de Cultura Hispánica, na UFC – cursos feitos de 1988 a 1991. Dado à leitura e à busca pelo conhecimento, foi premiado, em 1997, com a aprovação no vestibular da UFC – Letras Português e Espanhol e respectivas Literaturas, que cursou junto a pesadas jornadas de trabalho e concluiu em 2005. A pós-graduação veio anos mais tarde, pela PUC Minas: Especialização em Revisão de Textos, concluída em 2023.

Como a poesia entrou na minha vida… acho que nasci poeta!” Mas o poeta teve uma ajudazinha. Há notícias de que o avô havia criado uns versos para um famoso descuidista da Beira do Rio dos Cachorros. O pai e o tio Raimundo contaram-lhe essa história. Senhor Lourival também era chegado à poesia: “pra tudo, papai tinha um verso a declamar, cantar”. Fosse para a diversão, o ensino, advertência ou para dar um carão, sempre havia versos. A vivência intensa com o pai no trabalho cotidiano deu-lhe também a convivência intensa com a poesia. O primeiro verso, conta-nos, veio de um desafio que recebeu: um colega de escola (da segunda série ao oitavo ano) andava meio malcheiroso, e Lucas reclamou com o rapazinho, então, na quarta série. Num repente bem rimado, o rapazinho argumentou: “quem manda / você andar me cheirando?” Lucas Carneiro assegura que nunca foi repentista, “sou poeta de bancada”. Mas o verso do amigo o incomodou e, no outro dia, veio a sextilha pronta para argumentar com o amigo, cujos versos finais diziam: “seu cabrinha irresponsável / veja o que está dizendo / eu não ando lhe cheirando / você é que anda fedendo”. Daí não parou mais: escreveu dois cordéis e um sem fim de quadras, num caderninho desses de meia folha. A descoberta de sua poesia pelo público se deu em casa mesmo. Sua irmã mais velha, Ana Dalva, hoje falecida, que tinha toda a liberdade de mexer em suas coisas, pois foi sempre o seu maior amor, pegou seus caderninhos e encontrou o poema A PEDRA, publicado no seu livro O VERSO TRIVIAL, primeira e segunda edições. Ana Dalva leu, releu, decorou, mostrou para a mãe, e ficou repetindo pelos quatro cantos da casa: “Ah, pedrinha desgraçada!” “Não me lembro se já havia tido contato com ‘A Pedra’, de Drummond, mas a ideia que o poema passa é que sim, porque a imagem é a mesma: uma pedra no meio do caminho.” O caderninho, repleto de quadras e com seus dois primeiros cordéis, uma prima – Noêmia – pediu para ler, e nunca mais o devolveu. Lucas Carneiro escreve o verso livre, o metrificado, o branco e o rimado. Escreve, também, cordel, que considera herança genética do avô Lindolfo.

Trabalhos publicados: Publicou, aos 16 anos, feito em casa, em uma máquina de datilografia doada pelo pastor Charles Nicholls, da igreja que frequentava com a família, um livro de poemas juvenis, editado de forma artesanal, a que intitulou INSPIRAÇÕES e que vendeu nalgumas escolas. Em 2008, publicou, pela Expressão Gráfica e Editora, O VERSO TRIVIAL. Mais recentemente, em 2021, duas obras em conjunto: O VERSO TRIVIAL – 2a edição, e o livro de SONETOS, pela sua Oficina de Poesia Editorial, em parceria com a Editora Prellus. Publicou também os seguintes cordéis: Cunfuzão no Terminal; Lindolfo e a fera do cão; Foi depois que eu passei lá; Arrastando a Asa; D’ũa pisa que eu levei; A bela história de amor de Lourival e Maria; O Fanho; Sesi Barra do Ceará – 40 anos; Ainda tem na minha rua; No batuque do Pandeiro; e uma quase epopeia, em formato cordel, A Cidade do Cavalo Morto, em que narra a fundação do município de Boa Viagem, cordel esse aprovado em 2021 num Edital da Secretaria de Cultura de seu município, editado em terceira edição pela Oficina de Poesia Editorial em parceria com a Expressão Gráfica e Editora, com apoio da Lei Aldir Blanc.

Trabalhos a serem publicados:

Livros: CORDÉIS; UNA CANZONE D’AMORE y unos poemas más; SONETOS – 2a edição; Nos Moldes do Cordel; Quadra Quadrinha Quadrão; Estrofes Soltas; Poieo; e UMAS ESTÓRIAS QUE VI e outras que ouvi contar, este último em prosa, com estórias que o autor classifica como cronicontos.

Cordéis: Eu não troco meu Nordeste/por terra de seu ninguém; A Guerra do Contestado; Exalçamento ao Feijão; Memórias e tempos idos; Aos donos da terra; A Tentação; Dona Hermínia – Heroína do Sertão; A Salvação Invalidada; e, Agora Ficou Calado.

Autor do Projeto de Leitura Canto cá & Canto lá, que promove a leitura pública dinamizada de poemas/cordéis e a contação de suas Estórias. Autor, também, do Projeto de Leitura POR DENTRO DO LIVRO.