O pilão
O pilão.
É um ser esquisito meu velho pilão,
Tendo uma anatomia e vida controversa,
Com duas bocas, cada uma em face adversa,
Sendo uma pra cima e outra apoiada no chão.
Desligada do corpo encontra-se a mão,
Em torno de si, muita fiada conversa,
“Dorme” co’a mão na boca, ou posta de travessa,
Tem os dentes nos beiços… é assombração!
Pila-se no pilão torresmos e café,
Carnes para uma boa paçoca e o que tiver,
Milho para o cuscuz e o arroz para o feijão,
Tenho eu no peito um desses raros exemplares,
Pila saudades, moe ilusões aos milhares,
Na batucada célere do coração.
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Recebi com muita satisfação, essa interação do Poetas Jota Garcia , de quem invejo a criatividade e urgência.
PEÇA DE MUSEU
O nosso pilão é obra de arte,
Por mãos indígenas foi produzido.
Nele, o que será que foi moído,
Em tempos de setas e bacamarte?
Foi feito de pedra (será de Marte?).
Seu corpo é parecido com um sino,
E a mão, de pedra, lembra um pepino.
Outro igual não se encontra em qualquer parte.
Já cogitei doar para um museu,
Que o guardaria melhor que eu,
Mas cadê tempo para o tal gesto?
Enquanto isso, não dou nem empresto,
Reconheço que tem o seu valor.
Quem sabe irá comigo quando eu for.
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Do Poeta Solano Brum recebi mais essa colaboração especialíssima, pelo que fico agradecido.
PILÃO
Solano Brum
Enterram-se defuntos e não pilão;
Tampouco junto a ele o socador!
Madeira boa; feito a martelo e formão
Por sábio artífice com dom de escultor!
À volta dele, no ritmo da canção,
Trabalhadores se empenhavam no labor...
Socando grãos; passando de mão em mão;
Pau de pilão para o café ter mais sabor!
Instrumento de madeira, bem talhado
Por alguém a essa feitura, acostumado...
(Não fosse nele, seria numa pedra de mó...)
Só não se conta residuos aos triturados,
Deixando os dentes corroídos e cariados
E a boca, sem nenhum deles, de fazer dó!