VOZ
A voz dizia "nada estava bem",
E eu, ouvindo "estava bem demais",
Ria-me, e hoje a escutá-la, olhando atrás,
Notei a me falar não ter ninguém.
Será que ressoava do além?
Em assombros eu já não creio mais,
Mas sei que o remorso é capaz
De me fazer ouvir sem ver alguém.
Falara-me de dentro a consciência
Que me levava às portas da demência,
Por sempre ouvir, apenas, minha voz.
E a voz real que ouvira tantas vezes
E calara, após risos e revezes,
Ressoa irreal, quando estou a sós.