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ECCE HOMO!

Entranhada no físico
magro, feio, raquítico,
denuncia-me a máscara
do asno que sou,
embora traga opiniões avessas
ao lado perverso da política
e das coisas.
 
Sou apenas humano,
irracional, confuso,
nem sei se “asso”
se escreve “acim”
ou “açado”...
Sei um verso de Drummond,
meio do Quintana,
nenhum de Rimbaud...
Das duas frases de Pessoa,
gaguejo antes do fim...

 
Nem sei se poesia
tem significado (?)...
Faço frases,
corrompo a realidade,
destilo idéias...
Resgato do caos morto dos vivos
algumas palavras,
desapropriando o sentido,
colando  imagens...
 
Na vidraça que sou, enfim,
a pedra afunda...
Preencho os vazios,
que me permitem...

E só para não cair em pedaços
nunca me dou por inteiro...

Erigutemberg Meneses



NADA


Sou muito bem assim e, até, sei lá,
Nem mesmo sei mais quem ou o que sou.
Se busco ir, talvez, aonde for,

Não ache a mim ou nada no lugar.

Penso, por vez, ser hora de parar.
E achar do fogo algo que restou,
Mas sobre a brasa ao tempo que apagou
Sigo, se a arder em mim nada mais há.

Sou o que sou um nada num instante
E noutro à vida indo sempre diante
De um espelho a nada refletir.

Sou nada e nada sempre eu serei,
Sentindo o nada reino e eu rei,
Por não querer mais nada conseguir.

Erigutemberg Meneses



* * * 

RAPTOS LÍRICOS

De supetão senti o sobressalto
Subir ao pé e ir-se lombo afora,
Chegou à mente e sem qualquer demora,
Pegou-me a tal loucura de assalto.

É solução ser louco, isso ressalto,
Pois o que fui joguei porta a fora
E a realidade que é uma metáfora
Não conheci sequer mesmo por alto.

Graças a Deus, bebendo a poesia,
Eu vomitei o mundo numa pia
E é náusea o que restou dentro de mim.

Da vida o quanto dei, voltou em lixo,
Mas fiz dos raptos líricos  capricho
E hoje sou feliz...Até que enfim..

Erigutemberg Meneses

* * * 

ENIGMA

Eu empilhei as falhas da existência
Sobre o chão e após ver o arrumado
Eu descobri do cimo haver criado
Um monumento à tosca existência.
 
O olhar perdido, à luz da coerência,
Fez-me, à distância,  ver o outro  lado
Do incompreensível  ser que foi  criado
Pra ser feliz, mas vive em carência.
 
É que a razão uma hora nos atinge.
Eu sobre os meus fracassos vi a esfinge
De sombra horrenda e face hostilizada
 
A enviesar-me o olhar que ainda detenho
E exigir de mim todo o empenho
Na vida que ainda quer ser desvendada.
 
Erigutemberg  Meneses

Conheça outros meus sonetos aqui:

http://raptosliricossonetos.blogspot.com/