VESTIDO

Qualquer vestido nela fica feio.

Não se coloca veste em escultura,

Mesmo à alta moda falta altura

Pra de cobiça o olhar deixar mais cheio.

Ninguém a seus encantos fica alheio,

Mas cuidado, pois cega, se tortura,

Quem ouse ver em cru a criatura

Entre um requebro ousado e um meneio.

Mas invejo este olhar que foge à luz

E de memória sempre reproduz

A imagem da última visão:

O vestido de fios de ouro na trama,

Despegado do corpo alheio à cama,

Sem valor, esquecido ao rés-do-chão.