Fugindo da casca
Fugindo da casca
Muitos e muitos já tentaram outras vezes,
Fugir de mundo à dentro, ou pelo mundo afora,
Conquistando alforria, escapar d'argola,
Que lhe prende ao destino como irmãos siameses.
Nada tem de romântico curtir reveses,
Escapar para bem longe, isso revigora
Minha alma, que de tão lassa socorro implora
Calma, já que os olhos me olham de vieses.
Tem dias em que nem eu mesmo me suporto, hum
Queria escafeder-me de mim, ir embora!
Mas pra onde? Se sou a minha própria sombra.
Em qualquer outro porto que eu aporte e aporto,
Chegaria comigo no mesmo instante e hora,
Todo e qualquer fantasma tosco que me assombra.
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Do Poeta e amigo Jota Garcia, que mais uma vez me cobra com sua arte, recebi essa pérola.
O FUTURO SABE-SE VIVENDO
Isto se chama fado, ou destino
Dizem que vem tudo, explicadinho,
Mas guardado dentro de um escaninho
Que nos acompanha desde menino.
Há um cadeado, um contrapino
E uma senha que não adivinho
Só muita reza para abrir caminho
E ler a sorte de um peregrino.
O futuro só se sabe vivendo,
Uma linha reta e sem remendo,
Onde haverá dor e alegria.
Tem gente que se apressa e abrevia
Insatisfeito da vida que leva.
Seu caminho será de pura treva.
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Do Poeta e amigo Solano, recebi essa maravilha de soneto.
FILHO PRÓDIGO
Solano Brum
Botei o pé fora de casa pra ganhar o mundo
E vi minha Mãe na porta, olhando-me, assustada!
Sorvi as águas turvas de um mar profundo,
E dispensei o impossível pela ação tomada!
Passei pelas barreiras das ilusões perdidas;
Permiti que a luxúria tomasse-me de assalto
E entre os gozos das delícias proibidas,
Jurei ousadamente: "Nunca mais eu volto!"
Usei do cabedal para cobrir o meu conforto;
Adentrei ao submundo das almas condenadas
E amei todas as mulheres de porto a porto!
Ao descobrir que esse impulso ilude e exorta
Regressando ao Lar, cansado das caminhadas,
Surpreso vi, Mamãe em pé, na mesma porta!**