OTÁRIO

Na velhice virei grande otário,

Menino, fui da turma o mais sabido,

Na juventude, muito decidido,

E velho, caí no conto do vigário.

Perdi até o gosto argentário...

Compra o quê, se todo o querido

É ir ao SUS pegar o comprimido,

Pra de uma cova não ser locatário?

Aquilo que em jovem tinha gosto,

Até de graça, vejo com desgosto,

Que, igual a antes, não posso mais comer.

Mas em casa, para não viver tão só,

Mantenho quem me toma por avô

E todo dia reza pra eu morrer.