AFRESCO

Não marque nunca o teu divino flanco

Com tatuagem tosca ou cicatriz,

Se é tela branca em que muito feliz

Pinto guaches de amor que à mente tranco.

E acho mesmo até, dando-me franco,

Que o quadro como está já bem condiz

Com um afresco raro de perdiz

Negra em campo de neve largo e branco.

Traços azuis pintados pelas veias

Acendem as impudicas candeias

Dos olhos em vaivéns de baixo a cima.

Mas só se tem por finda a pintura,

Com as tintas douradas da ternura,

De meu corpo assinando a obra prima.