Meu avô

Meu avô

Lembro-me ainda seu sotaque lusitano

E dos beijos macios que me dispensava,

Aquela cabeleira cheia, lisa e flava,

E também coração de bom samaritano.

Contagiante! Entrava ano e saía ano,

Seu peito parecia-me uma funda aljava,

Onde boa quantidade de flechas guardava

E não as disparava a esmo ou por engano.

Setas de um infindável e puro carinho,

Dele fluíam como fato comezinho,

Como a beleza rústica de um bangalô.

E hoje, ao usufruir beijos dos meus netos,

Vejo-me arrebatado com tantos afetos

E sinto pelos não dados em meu avô.

Aracaju- Sergipe, 30/ 09/ 2021