JUSTIÇA
Com a saia da toga, sem malícia,
Themis encobre a cara de vergonha,
Por que em qualquer prato que se ponha
Um réu nunca é julgado com justiça.
Pesa o rico uma pele de linguiça,
Mas à balança a carga é medonha
E o pobre, pese tal uma montanha,
Não se iguala à rolha de cortiça.
Da cintura pra baixo está nua
A deusa da justiça e a nós da rua
Dá impressão que seja meretriz.
E os gumes da espada - que piada!
Ao rico a linha é cega e a afiada
É a que retalha o pobre infeliz.