SONETO DA DESISTÊNCIA

Desisti. Não caminho sobre espinhos,
Nem arremesso flores para a turba
Que só quer ver o sangue de quem sofre,
De quem, roto, agoniza em praça pública.

Desisti. Não sou desses, nem exponho
Feridas como estúpidos troféus 
Mergulhados na inércia, retorcidos
Pelo caos que domina tudo e todos.

Nunca esperem que eu lute sem motivo,
Que transforme delírios numa causa,
Que me entorpeça para ter coragem.

Desisti. Gasto a força que me resta
Em algo bom. Quem sabe, deixe claro
Aos que não têm amor, que não sou desses.


(Maio de 2021)