Remanso
Degustava o silêncio como quem aprecia uma paisagem
distante, na ânsia eterna de encontrar somente a si
no refúgio sem sons, no alento calmo destas paragens
que esperam pela voz daquele que sereno, disser “nasci”
Nada trouxe, além de calma luz e constância indizível
ao mundo que corta o impenetrável com doída frieza
abrindo sulcos no intocado coração, beiradas do invisível
cujo despertar, pesou na emoção, destituído de pureza
Resta a espera distraída da profundidade onírica
que velejando pelo oceano claro de ondas breves,
deságua no cais, absorta na própria fagueira lírica
Assim leve, assim livre de balbúrdia inclemente,
ganha os ares uma límpida certeza de mansidão
acobertando a alma daquele que nada mais sente