O enterro

O enterro

Estou a retornar do cemitério,

Onde fui enterrar mais um amigo,

Conduzi-lo ao seu último abrigo,

Dando continuidade a este mistério. 

Na epifania de um árduo saltério,

Que me fez contorcer até o umbigo,

Ao lamentar a perda no jazigo,

Vejo quão grave é este planisfério.

Foi-se mais um que fez a minha vida

Esperançosa, utópica e florida,

Mas que murcho baixou à sepultura... 

Vão-se assim estes sonhos derradeiros…!

Um após outro e fico um pardieiro,

Caindo sob o peso da amargura. 

Sonhos que um a um são enterrados,

Em escavação rasa e coletiva,

Vindos de uma igual sorte à deriva,

Terão outra vez ossos ajuntados

Nasceram com destinos malfadados,

Padecendo de inércia negativa,

Na palidez do cronos, primitiva, 

Não cumprindo os projetos designados. 

Como frutos do galho despencados,

Chochos, murchos por não terem vingados,

Esquecidos, jogados pelo chão. 

Melhor que nem tivessem existido,

Não estaria agora eu cá perdido,

Remoendo tamanha ilusão. 

Aracaju- Sergipe, 15/04/2021

PS., Parece que não me fiz entender. Não estou falando de enterro de gente, mas de sonhos.

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Belíssima interação do amigo Poeta Jota Garcia, que me brinda com mais uma obra clássica.

A MORTE DOS SONHOS

Inda bem que não tive muitos sonhos,

Fui deixando a vida me levar,

Talvez falta de tempo pra sonhar,

Alguns tive, mas eram sempre tão bisonhos,

Tão difíceis, irreais, tão tristonhos,

Que sempre evitei de neles pensar.

Fixei-me em manter meu caminhar,

Assim nem me perco nem me envergonho.

Nem lembro se existiram ou não,

Ou se morreram de inanição

No quarto escuro onde os deixei.

Que não mais existem é o que sei.

Que importa se sonhei, se não sonhei?

Em toda uma vida sem razão?

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A Poetisa Maria Augusta da Silva Caliari teve a gentileza de me presentear com esse mimo, pelo que agradeço.

Outros sonhos vislumbram

Enquanto no limiar da subida

Descansa algum sonho original

Pede bela passagem aos novos

Para irmos alimentando a vida

Enquanto temos momento atual.