À PRIMAVERA
Eterna primavera a que me serve
Senão para gerar melancolia
Por ter de ver teu rosto noite e dia,
E assim jamais poder mudar a verve?
Por mais que um riso alegre me reserve
A estação, sem ser rude eu queria
Ver o verão, o inverno e como ia
O outono... Oh, deles - Deus! - não me preserve...
Inspira-me o espírito a inconstância,
Do calor, frio e sombra sem distância
Quero ficar, se assim honro a vida.
Um riso a irradiar-se de um só jeito,
A ti, ó primavera, dá o efeito
De quem se acha do falso possuída.