CASA GRANDE E SENZALA

Como lavasse os pratos sobre a pia

Ou as roupas no tanque, em sua cama,

Passivamente, entrega a quem reclama

O corpo em simulada alegria.

Nessa rotina, todo santo dia,

Sem paz interior, é uma chama

A pouco iluminar quem já não ama,

E encobre com luz sem cor e fria.

Sob o outro corpo, esconde o que sente,

Permanecendo ao leito indiferente

Ao prazer que provoca e não priva.

Ao sombreado dossel, uma rainha,

Na casa grande, dá-se à camarinha

Tal se fosse à senzala uma cativa.