SONHO

Aquele corpo esbelto como um lírio

Aos ventos dos prazeres se vergou

E o rio de meu corpo perfumou,

Transformando-o em um ardente círio.

E à noite inteira entregue ao delírio

O som da ventania ecoou

Nos ais das bocas lívidas, sem cor,

Das flores no pendão quase em martírio.

E além do leito calma e dolente

A lua censurava o que a gente

Fazia sem pudor, perante o ceu.

Ainda hoje, a cor de lua-cheia

Das pétalas do lírio clareia

Um sonho que jamais aconteceu.