FALTA
Ontem senti a falta de um abraço,
Como hoje eu sinto a de um beijo
E amanhã sentirei a do desejo,
Pois isso é o que todo dia faço.
Confesso, sim, não sinto embaraço,
Por dar a conhecer o quanto almejo
Da intimidade crua em que me vejo,
Inteiramente, entregue a forte enlaço.
Mas o corpo que ao meu nunca se aninha
E tanta falta faz hoje à minha
Vida a nunca dar-se por completa,
É apenas uma sombra, a mim parece,
E sempre, quando o dia amanhece,
Desfaz-se como sonhos de poeta.