SAUDADE
Saudade é coceirinha muito boa
Que quando coça vai fundo na gente,
Coçando no lugar que mais se sente
A ausência, e o corpo inteiro atordoa.
E coça-se, até que a carne doa,
Desfrutando a coceira inteiramente,
Que quanto mais se coça mais ardente
Torna-se e a razão deixa à toa.
E se pensa que os dedos sobre a pele
Não pertencem a si, mas são daquele
Que trouxe a tão gostosa coceirinha.
Mas depois de coçar, ido o delírio,
Não se contenta a alma em martírio
De em corpo calmo ver-se mais sozinha.