SEDE DE DESERTO

Se salgo minha boca em desejo

E tua boca em desejo se orvalha,

Será, meu Deus, então, por que não calha

Juntar as duas bocas em um beijo?

Já disfarçamos muito em gracejo

O que em amizade se embaralha

E a voz secreta da alma não se espalha,

Gastando-se o amor neste gotejo...

Mas juro de hoje em diante não vou mais

Beijar o rosto, como amigo faz,

Se o alvo real está tão perto.

Se tua boca é a fonte de um oásis,

Abram-se à minha os teus lábios lilases

E acabe-se essa sede de deserto.