COISA DA IDADE
Entre mim e meu corpo há briga feia.
Ninguém se entende mais, coisa da idade,
O corpo sabe não ser de verdade
O vigor que a mente alardeia.
Assim, minha existência se alheia
À razão. Numa parte sou saudade
E noutra não aceito a realidade
De que no tempo a vida é fina teia.
E sem fiel a balança ora pende
Para a velhice e a mente não se rende,
Vendo-se nova igual à do passado.
Ora, rendido o corpo joga o peso
Sobre a mente e assim me vejo preso
Em jogo no qual sou sempre enganado.