Velório
Ardia a vela em pires refratário,
Sobre a marmórea pedra branca e fria,
À distância dali também ardia,
Em baixo pranto um peito solitário.
Dois choros, cada um no seu calvário,
Estava uma a chorar porque morria,
Aquele a prantear por quem não via,
Ambos ao som do mesmo campanário.
De repente, eis que chove e apaga a vela,
Ele que antes velava já não vela
E às pressas sai do infesto cemitério.
Volta então o silêncio sepulcral,
Onde o bem se mistura com o mal,
Cercado por miasma deletério.
Aracaju, 24/ 09/ 2020