ATAÚDE
Fiz da realidade uma caixa
E dentro eu tranquei partes de um sonho
Não realizado e hoje pressuponho
À vida adulta já não se encaixa.
Ando emparelhado à nobre faixa
De ourudos e aos salões dou-me risonho
A dizer que de luxos eu disponho,
Sem o gasto afetar meu livro-caixa.
A caixa no escritório está lacrada
E dentro dela já não ponho nada
Que me faça lembrar a juventude.
Mas quando a vejo, às vezes, me parece
De pesadelos cheia e se oferece
Aos olhos como fosse um ataúde.