BEIJO ROUBADO

É serio, eu pensei roubar um beijo

Daquela boca rubra igual a flor,

Mas bacharel, sabendo a lei de cor,

Sujeito à lei, privei-me do desejo.

Se desse o beijo, como à mente vejo,

Dopado pelos pangos do amor

E ela não gostasse, aí, doutor,

Seria à cela a Dama do Sobejo.

Se o delegado, então, visse abuso

Num selinho nos lábios tão em uso,

Veria o promotor ato devasso.

E o juiz, no vem e vai da lei,

Até por beijos que em sonhos roubei,

Tirava-me o couro do espinhaço.