AMPULHETA

A mil ou a cem, fraco ou viril,

Tal grão de areia, cada um vegeta,

Esperando que a velha ampulheta

O esqueça de passar pelo funil.

Grão que saia da câmara, alguém viu,

Sem que o vidro caia da banqueta?

E mesmo se cair mão inquieta

Joga no lixo a areia que caiu.

A ampulheta rendida ao passatempo

De revirar os grãos conta a um tempo

O cem do vago e o mil da intensidade.

Viver a cem e a mil, será que importa,

Se a ampulheta nunca abre a porta

Para o grão escorrer em liberdade?