Em plena dinâmica no nosso FÓRUM DO SONETO, ao postar o soneto abaixo, fui agraciado com ricas interações de igual teor, dos bardos amigos sonetistas aos quais agradeço a honra e, oportunamente, os reverencio nesta apresentação literária inserindo abaixo, no painel, seus rebentos.
O FARDOPor quantas vezes segurei no peito,
o meu soluço e na garganta o grito,
pesado fardo, mas, no entanto, aceito,
se a mim foi dado sempre o vi bendito.
Por quantas vezes me pegou de jeito,
a vida, o pranto, o que me foi escrito,
a quem chorou eu declarei respeito,
mas o meu choro sempre foi restrito.
Nem sei dizer se pra manter decoro,
por tantas vezes engoli meu choro
e feito um forte me mantive ereto.
Agradecido por cumprir a meta,
embevecido e com olhar esteta,
já me permito até chorar... discreto.
Edy Soares
ATÁVICA MELANCOLIA
A incógnita alma, avoenga e elementar*
De um meu antepassado taciturno,
Por atavismo, me forjou noturno,
Recluso, ensimesmado em meu pensar.
No rosto, só penumbra e este pesar,
Presente, em gerações, a cada turno,
Propenso ao breu da noite em tom soturno,
Plural na dor, no riso singular.
Patente, eu sei, não há nenhum motivo
De sempre assim mostrar melancolia,
Tristeza tendo em conta de atrativo.
Quiçá, eu mude, mais ou menos dia,
Findando o tom sombrio em mim nativo
E, em vez de angústia, um pouco de euforia.
* Augusto dos Anjos
Fernando Belino
COMIGO
Perdido tantas vezes neste afeto,
Só sei dizer por lágrimas vertidas
Como essa dor, por máculas sortidas,
Torna difícil ser um homem reto!
Aqui estou, fitando um pobre inseto
Retorno a mim, nas mais introvertidas
Circunspecções de todas as medidas,
Nos átimos de um sonho que projeto!
Voejo sobrepondo o peso e o medo
Vivendo no silêncio o meu segredo
Rememorando o amor inesquecível...
Porque, impedido, pobre engano ledo,
De oferecer o amor, que desde cedo,
Guardado, vem comigo, imperecível!
Ricardo Camacho
ASSOVIOS
Assovio canções, passarinho,
pelas trilhas, bailando animado.
À alegria que borda o caminho,
aprecio o planeta encantado...
Todos dizem que sou contemplado,
ser feliz é presente, carinho
do Divino Senhor Consagrado
e que assim não se fica sozinho.
Retribuo, gentil, com sorrisos
amplos, límpidos, plenos, precisos;
desses risos com sóis de ternura.
Mas não sabes, afável pessoa,
quanto o riso que exponho ferroa
minha entranha de infinda amargura.
Marco A