ORELHÃO

Flagrei milhões de vezes o orelhão

Gozando por me ver triste e sozinho,

Pela desafeição de alguém mesquinho

A nunca retornar-me a ligação.

Nos dias de inverno ou de verão

Brigava-se até com o vizinho,

Disputando a tapas o caminho

Do aparelho, fonte de atenção.

Mas a mudança veio e sem escândalo,

E sem penar em filas, hoje falo

Com quem a vida quis compartilhar

E do orelhão não zombo, sinto pena

Do aparelho e de quem dele me acena

Querendo conectar-se ao celular.