À ESPREITA
Não me espanta vê-la à espreita.
Finjo não ver o rastro negro dela,
E se estiver à esquerda da viela,
Mudo a calçada e passo à direita.
Mas de modo malvado, a sujeita
Move uma pedra e quebra-me a canela,
Mesmo assim, de muleta chuto ela
Pra escanteio e a coisa se ajeita.
Se sou ranheta, ela é sagaz,
E paga o tempo como capataz
Para levar a minha vida ao cabo.
Eu sei que no final serei vencido,
Mas em vida, antes de ir, eu terei rido
Dela e em seu seio irei troçar do diabo.