VIDA
A vida anda assim molha e não molha
Como uma chuva fina e passageira,
Mal podendo limpar fina poeira
A desenhar o tempo numa folha.
Dou-me à apatia e, mesmo tendo escolha,
Finjo que não quero, embora queira
A solidão fiel por companheira
E, às vezes, procurar quem não me olha.
Há nuvens carregadas, mas o vento
As leva para longe e o sentimento
Não muda à hora que quero mudar.
E a umidade que me cega o olho
São lágrimas da vida que escolho
Sem chuva em tempo sempre a trovejar.