Desilusão de Ótica

Mirando-me num retrato de outrora,

eu cri-me alçado em voo, sem ser alado;

atrelando-me à ilusão do passado

esquecido dos espelhos de agora.

E inebriado assim fui mundo afora

em fantasias, sentia-me remoçado

neste falso delírio acorrentado

que, tão facilmente, a vida devora.

E, em lhe devorando o tempo, cai a venda,

que confunde e mascara a realidade.

Para que o iludido espírito aprenda

sinto no corpo a terrível verdade:

que a ninguém, no decurso desta senda,

é permitido esquivar-se da idade.

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