Constelação (As Três Marias)
 


Três Marias são estrelas
inocentes ou nem tanto.
Por um sonho, posso vê-las
com seus dotes e encantos.

Um retrato que me ilude
porque todas são tão belas.
Mas, voltando à juventude,
sonho amor de uma delas.

Sonho aquela que sorri
com seu corpo mais risonho
e sorriso que se alvora.

Porém, feito um colibri,
com as asas do meu sonho,
ela avoa e vai embora.

 

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Interpretação
 

“Três Marias são estrelas...” Tudo começa com um falso soneto, que pode representar a falsa realidade do amor idealizado pelo poeta. A começar pelo título, “As Três Marias” faz referência às três estrelas que se avistam alinhadas no céu, e que assim são chamadas desde os tempos passados até os dias atuais, mas não podem ser alcançadas pelos seres humanos e, desta forma, seriam amores platônicos.
 
Outra possibilidade de interpretação é que, no passado, aos homens de nomes desconhecidos chamavam-se José e às mulheres cujos nomes não se conheciam, chamavam-se Maria, fazendo assim uma referência respeitosa a José e Maria da Sagrada Escritura. Mas isso é outra história.
 
 “... inocentes ou nem tanto.” Tal verso traz à memoria do poeta o presente e refere-se à inocência das jovens musas; inocência essa que pode estar perdia, como é comum acontecer nos dias atuais.
 
“’Por’ um sonho, posso vê-las...” Neste verso, a preposição “por” assume um significado de espelho, através do qual o poeta consegue ver suas três musas, tal como elas seriam, no passado ao que ele é remetido pelo sonho, não só no presente em que eles estão.
 
“... com seus dotes e encantos.” Neste verso, o poeta faz uma observação física e genérica das três musas, sem dar destaque a nenhuma delas.
 
“Um retrato que me ilude...” Neste verso, o “retrato” é a fotografia da cena, a visão primária que o poeta tem da figura feminina, dentro dos seus padrões de beleza física, que o faz sentir atraído pelas três. “Iludir” está empregado no sentido de confundir seu coração.
 
 “... porque todas são tão belas.” Este verso revela o motivo pelo qual os olhos ou o coração do poeta comtemplam e admiram as três personagens da cena e não consegue eleger, de imediato, a musa da sua poesia. Outra interpretação desse verso seria uma referência ao tempo presente, onde geralmente já não há muita fidelidade, e os “corações” tendem a se sentirem atraídos por mais de um amor ao mesmo tempo.
 
“Mas, voltando à juventude,...” É claro que esse verso não se refere à juventude das Três Marias, mas ao passado do poeta, onde, pelo menos hipoteticamente, havia mais fidelidade, mais exclusividade no amor, e o coração do poeta seria capaz de eleger apenas uma entre as três “possibilidades” que ele tem.
 
“... sonho amor de uma delas.” Esse verso revela a escolha do poeta. Na juventude do seu tempo, não há dúvidas em seu coração, a fidelidade no amor acontece de forma natural, e seus olhos se voltam para somente uma delas.
 
“Sonho aquela que sorri...” Esse verso não esclarece se o tal sorriso seria para ele, o poeta, ou se somente um sorriso alheio entre as “Três Marias”. O fato é que o sorriso da sua “eleita” e não os apelos da vida moderna é justamente a característica que a destaca das outras e a faz parecer mais bela aos olhos do poeta.
 
“... com seu corpo mais risonho...” No entanto, esse sorriso, que talvez demostre a simpatia e a simplicidade da moça, não apaga a atenção do poeta para com os encantos físicos da sua musa, mas apenas divide. Todavia essa divisão é soma, pois, na visão do poeta, o porte físico da sua musa inspiradora é tão belo e sublime que se humaniza e sorri junto com ela, quando ela sorri, mesmo se esse sorriso não tenha sido para ele.
 
"... e sorriso que se alvora." Esse verso é um complemento do anterior. Mas, com ele, o poeta enaltece o sorriso da moça e reafirma sua visão de que os encantos que ele busca e encontra nela, não vem apenas da beleza física, mas essencialmente da simpatia e espiritualidade que ela, mesmo sem consciência, é capaz de lhe inspirar.
 
"Porém, feito um colibri,..." Que pássaro detém a fama de ser mais belo, enigmático, e, ao mesmo tempo, veloz e furtivo do que esse? Nesse verso, o poeta compara a moça ao colibri, o famoso beija-flor, que chega com todo seu colorido, seduz, encanta os olhos que o vê e simplesmente desaparece sem deixar vestígios.
 
"... com as asas do meu sonho,..." Nesse verso complementar, o poeta não descreve o momento em que sua musa inspiradora se afasta sem deixar-lhe nenhuma possibilidade, pois isso já seria claro.  Mas, ao se afastar, ela o retira do sonho, ou melhor, retira o sonho dele, e o faz acordar para sua realidade, onde a juventude não volta mais, e o amor, tal como ele sonhou, não é mais possível.
 
"... ela avoa e vai embora." E assim, com esse verso final, ele apenas consuma o que foi dito. Mas o “voar” representa a efemeridade do seu sonho, a rapidez com que tudo acaba.
 

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