ARREPENDIMENTO
Acordava de um sonho todo dia
No qual eu encontrava a bancada
Da cozinha enxuta e arrumada,
Sem louça suja enchendo o vão da pia.
Na realidade o sonho não cabia
E sempre quis ser livre da jornada.
Hoje a bancada vejo organizada,
E a pia limpa, não como eu queria.
Eu tanto exigi arrumação
Que ao destrambelhar a relação
Da cuba cheia a vida se avizinha.
A solidão não suja nenhum prato,
Mas a pia amanhece com um chato,
Rezingando o vazio da cozinha.