O RETRATO - soneto
O Retrato
Lílian Maial
Teus olhos mudos, no retrato, me acompanham,
Como a mostrar-me, fogo fátuo, o que morreu.
Por sob o brilho do papel, teus lábios trancam
O meu sorriso, refletido sob o teu.
As mãos imóveis, por tão pouco não me espancam
De solidão, que o teu abraço não é meu.
O peito inerte, fria pedra, de onde emanam
Os evangelhos desse coração ateu.
Doente máquina que ousou prender teu rosto
Nessa moldura que me dá tanto desgosto,
Testemunhando o sofrimento, a fome e a sede.
Quisera um dia ter poder de a destruir
E finalmente libertar-te p’ra partir,
Ou pendurar-me, junto a ti, nessa parede.
**********