NAVE DOS DESEJOS
Em transe sou a nave dos desejos
Singrando a pele em ondas de além-mar,
Onde os sargaços ruivos em festejos
Abrem-se para a proa abraçar.
A boca, ilha bela onde os arquejos
Dos ventos nunca param de soprar,
É o cais de onde parte entre lampejos
Para o claro e o escuro desbravar.
Sem capitão, desliza à deriva,
Mas de nada do mar ela se priva,
Buscando a terra oculta em palmas d’ouro.
Enfim, cruzando ondas de altos pomos,
E os tufos de alga, abrindo em gomos,
A nave atraca à ilha do tesouro.