ÉS (POETA), FINGES

Poeta não é deus, se tanto finge.

E embora crie mundos e universos

Com a matéria prima de seus versos,

Engana com a luz do olhar de esfinge.

Devora-te, se escutas do salpinge

A voz com seus enigmas controversos...

Mas de tudo o que diz, só nos inversos

Do dito crês e o mal não te atinge.

A voz é sensual, mas ruge em fúria,

A manter no olhar doce injúria

A tudo a fingir-se de sereno.

Decifra-me... Ordena, e com medo,

Entregas tua alma no rochedo

Da página a beber o seu veneno.